O médico clínico Evandro Pereira dos Reis publicou um vídeo nas redes sociais no último dia 24 em que denuncia a falta de EPIs (equipamentos de proteção individual) no Pronto Socorro, do Quarteirão da Saúde, em Diadema, para funcionários que têm atendido casos suspeitos do novo coronavírus (Covid-19). Após ser chamado pela direção do equipamento e integrantes da Secretaria de Saúde, o profissional foi afastado do cargo e acusado de insubordinação a servidor público. Uma sindicância foi aberta. Reis acusa a Prefeitura de assédio moral.
No vídeo, Evandro inicia sua fala em que chama o prefeito Lauro Michels (PV) de “fanfarrão” após a divulgação de alguns vídeos pelas redes sociais. “Nós, funcionários de Diadema, principalmente os médicos, estamos comprando materiais por nossa conta, porque não tem EPI suficiente, EPIs dignos. Enquanto na Europa, em outros países e em outros municípios existem capacetes, roupões impermeáveis, lá (Quarteirão da Saúde) tem no máximo umas máscaras, ok, e nós colocando a cara a tapa (sic)”, disse o médico.
No dia 30, Reis foi chamado para uma reunião com a direção do equipamento, Secretaria de Saúde e Gestão de Recursos Humanos para receber “orientações sobre os procedimentos que deveriam ser feitos segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)”. O médico se sentiu coagido a assinar uma documentação que, segundo a Prefeitura, afirmava que o profissional tinha sido orientado sobre os procedimentos. Para o servidor, a ideia era repreendê-lo por causa do vídeo. O documento foi assinado por três testemunhas que confirmaram a negativa de Evandro.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Diadema relatou que foi feito um Boletim de Ocorrência contra o servidor por desacato e insubordinação a servidor em exercício da função. Além disso, foram encaminhados documentos para abertura de uma sindicância. Ao RD, Evandro Pereira dos Reis relatou que também fará um BO por assédio moral e que segue normalmente com o seu trabalho de plantonista.
No mesmo dia, o profissional da saúde foi chamado para ir à área de Recursos Humanos da Prefeitura, mas não foi, pois não poderia abandonar o plantão, pois atendia pacientes em estado grave. “Não houve nenhuma solicitação por escrito. Foi uma ligação de uma funcionária dizendo que estavam me chamando lá”, explicou. Na sequência, uma representante do RH foi até o local para retirá-lo do trabalho por ordem verbal. “Ela dizia que eu não estava bem para o trabalho, como se ela tivesse a competência para dizer se eu estou bem ou não”, completou.
Divergência
Durante a entrevista, o médico relatou novamente os problemas no equipamento público em Diadema. Como falta de máscaras e roupas especiais, algo que segundo Evandro só seria providenciado para os médicos e enfermeiros que entraram em contato com pacientes com a Covid-19 confirmado. “Como vamos adivinhar se o paciente está ou não com coronavírus? Até o resultado vir já se passaram três dias”, afirmou.
Sem detalhar, a Prefeitura afirma que segue as diretrizes da Organização Social da Saúde para adquirir os equipamentos de proteção necessários e que as medidas para proteção dos servidores também seguem tais diretrizes.
A denúncia também alega que no Quarteirão da Saúde não há o devido cuidado com os resíduos que são retirados e que os funcionários responsáveis pela limpeza atuam sem luvas. Também há reclamações de falta de álcool em gel.
Troca de acusações sobre agressividade
Quando questionada sobre a suspeita de perseguição a Evandro Pereira dos Reis, a Prefeitura de Diadema afirmou que o servidor apresentava “quadro de risco de atendimento à população devido a sua agressividade. O funcionário é reincidente neste fato”. O fato foi negado pelo médico que relatou que passou por um processo de sindicância na cidade.
Em 2017, foi acusado de agredir a diretora do Sindicato dos Servidores Públicos de Diadema (Sindema), Roseli Aparecida de Souza, quando a sindicalista distribuía folhetos que convocam os funcionários da saúde para uma assembleia. Segundo o relato de Roseli, Evandro teria puxado pelo braço e apontado o dedo em sua cara. O fato virou motivo para uma sindicância e também para um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
Evandro Pereira dos Reis disponibilizou à reportagem o conteúdo de todo o processo de sindicância, que foi finalizado no dia 27 de agosto do mesmo ano. Segundo o relatório assinado pela presidente da então Comissão Processante Permanente, Edicléia Assunção Alves, o caso deveria ser arquivado (o que de fato aconteceu), pois considera que “não foram comprovadas por meio dos depoimentos das testemunhas arroladas nos autos”.
O servidor público alega que é perseguido pela Prefeitura e pelo Sindema por seu posicionamento político. Evandro chegou a fazer uma denúncia de falta de EPIs durante a gestão do ex-prefeito Mário Reali (PT – entre 2009 e 2012) e que foi usada por Michels em sua primeira campanha para o comando do Paço.
“Apesar das denúncias não houve mudança. Até hoje quem cuida do Quarteirão da Saúde é o pessoal do PT. Mudou o prefeito, mas é o mesmo pessoal”, finalizou.
Confira a íntegra da sindicância envolvendo Evandro Pereira dos Reis em relação ao caso relatado em 2017: