“Sem dúvida nenhuma, essa é a maior crise que a categoria dos motoristas de aplicativo já viveu deste o início da atividade”, assim o presidente do Stattesp (Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transporte Terrestre Intermunicipal do Estado de São Paulo) Leandro da Cruz Medeiros, definiu a situação do segmento, após as medidas de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Segundo ele muitos motoristas estão abandonando a atividade porque não conseguem arcar com os custos.
“A realidade é que 70% da categoria parou e o restante ainda luta para sobreviver, mas não tem passageiro, não tem mais ninguém na rua. Não acredito que um dia terá uma crise como esta”, avaliou Medeiros. Como grande parte dos motoristas de aplicativo utilizam carros alugados, muitos estão devolvendo os veículos para as locadoras porque não tem como trabalhar e pagar o aluguel. É o que relata Rogério Isaias da Silva, que é diretor no Stattesp e esta semana acompanhou um motorista na devolução do carro. “É triste, só no grupo de whatsapp que eu estou, dos 250 motoristas, tem uns 20 que estão trabalhando, uns 50 já entregaram o carro e outros mais farão o mesmo”, comenta.
A crise na atividade que foi a opção ao desemprego para muitos trabalhadores afeta ainda mais aqueles que tem carro próprio ou financiado. “Tem alguns bancos que estão deixando o vencimento das prestações deste mês para depois, mas outros não”, comentou Silva.
As empresas de aplicativo não se posicionaram especificamente sobre a queda no número de viagens e argumentam que não prestam este tipo de informação. A Uber anunciou um vale saúde para os motoristas parceiros. “Estamos acompanhando a situação bem de perto e esta é mais uma medida que a Uber adota para reforçar seu papel social e auxiliar na prevenção e proteção de parceiros e usuários”, destaca a diretora-geral da Uber no Brasil, Claudia Woods. “A segurança e o bem-estar de todos os que usam nosso aplicativo para se deslocar ou para gerar renda é a nossa prioridade”, completa. A companhia também vai fornecer assistência financeira ao motorista que estiver em quarentena, baseada na média de ganhos dos últimos seis meses.
A 99 também adotou medida de compensação. “A 99 esclarece que a pandemia e as medidas de isolamento social são situações de excepcionalidade e a prioridade é garantir a saúde de passageiros e motoristas parceiros, bem como o bem estar da sociedade. Sabemos que há quem precise se deslocar e também a importância da renda para as famílias dos condutores. Por isso estamos acompanhando diariamente os cenários e adotando medidas que garantam corridas em segurança e proporcionem renda, como a doação de 60 mil corridas para a Secretaria Municipal da Saúde do município de São Paulo ou o fundo de apoio financeiro aos motoristas diagnosticados com a Covid-19”, informou em nota.
A Kovi, uma startup especializada em locação de veículos para motoristas de aplicativo, não se pronunciou.
As medidas anunciadas, no entanto, não atendem a necessidade da categoria. O presidente do Stattesp, pede ajuda ao poder público. “Somos 200 mil trabalhadores e faço um apelo às empresas e ao governo. Nossos trabalhadores estão perdendo a vida e arriscando suas famílias”, conclui Medeiros. Na Capital, segundo o sindicato, já há casos de motoristas de aplicativo que se infectaram com o Covid-19.