Em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) uma das principais preocupações dos especialistas da área de saúde mental é o que a quarentena e o isolamento social desencadeiem na população após o surto. Em entrevista ao RDtv, o psiquiatra da Rede D’Or São Luiz, Líbano Abiatar, alerta que sequelas significativas começarão a aparecer e que muitas pessoas vão ser diagnosticadas com descompensação mental.
Alguns dos motivos, de acordo com o especialista, são os fatores econômicos e sociais, que podem assustar a população. “Quando as pessoas saírem do surto e desse isolamento social, vão se deparar com consequências tanto econômicas quanto sociais, e isso pode desencadear problemas, como estresse pós-traumático”, afirma.
Para driblar o problema, o profissional afirma que a população deve adotar bons hábitos de pensamento e sentimentos para afastar as consequências negativas da pandemia. “É uma receita que deveríamos seguir sempre, evitar pensamentos negativos e exercitar a mente com coisas positivas”, completa.
Ainda que a população esteja dentro de casa e em isolamento social, a orientação de Abiatar é que as pessoas evitem a ociosidade e inatividade, com práticas que exercitem a mente. “Praticar exercícios, meditar, ler, fazer algum curso ou atividades úteis são importantes e essenciais para exercitar a mente e manter a saúde mental e física em dia”, explica.
Com a pandemia, o número de atendimentos nas especialidades de psicologia e psiquiatria aumentou consideravelmente, o que fez com que os especialistas se mobilizassem, ainda que virtualmente, para atender a demanda. “Muitos de nós passamos a atender via internet, por videoconferência, porque sabemos da necessidade e importância em manter o atendimento e tratamento, principalmente as pessoas que já sofrem com algum tipo de distúrbio psiquiátrico”, diz. Deste modo, a entrega de receitas continua com motoboys ou correio.
Quando questionado em relação aos atendimentos, Abiatar ressalta que em níveis hierárquicos continua sendo com os pacientes que sofrem com transtornos mentais assintomáticos, com prejuízo funcional. “Sabemos que o medo, a insegurança e incerteza em meio ao confinamento domiciliar podem ser gatilhos para o agravamento da descompensação, e por isso a atenção aumenta”, destaca. Em segundo plano aparecem as pessoas que não sofrem com transtornos mentais (depressão, ansiedade, esquizofrenia, etc) mas que podem vir a desencadear.
Para evitar o risco, o profissional sugere que em período de isolamento, a família redobre atenção quanto ao acolhimento dos entes queridos. “É um período extremamente importante para que as pessoas tenham um auto conhecimento, procurem se ouvir mais, acolher e empatizar com o outro”, afirma. Já para quem já tem um diagnóstico, a orientação é continuar com o tratamento com ajustes demandados de acordo com o psiquiatra que assiste o paciente.