As barreiras em todo mundo para conter o avanço do coronavirus, ou Coronavid-19, são consideradas satisfatórias, apesar do vírus, que já fez mais de duas mil mortes na China e deixou outros 74 mil doentes fora da América Latina. No ABC, os serviços públicos e privados de saúde se dizem preparados e mobilizados para diagnosticar e tratar vítimas da doença. Esses foram os principais destaques do Ciclo de Debates – Conhecer e Informar, realizado pelo Repórter Diário em parceria com a USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), que abordou o tema Coronavírus e Saúde Pública e abriu a série de encontros.
Em transmissão ao vivo no Facebook do RD, profissionais de saúde debateram o tema na USCS. Participaram do encontro a biomédica Patrícia Novoa, da Secretaria Estadual de Saúde; Angela Maria Moriwaki, diretora técnica de Saúde do Grupo de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Estado; Regina Maura Zetone, médica e secretária de Saúde de São Caetano; Adriana de Brito, gestora do curso de Medicina da USCS; e Michel Soane, mestre em infectologia e gerente de pesquisa e desenvolvimento da Euroimmun.
Marcos Bassi, professor e reitor da USCS, destacou a importância da parceria no ciclo de debates e enfatizou a importância do combate às notícias falsas na internet, que desinformam e levam pânico à população. “Nossa intenção é fazer a ponte do conhecimento acadêmico com a população, principalmente, para combater a fake news”, diz. Já Airton Resende, diretor de Redação do RD, enalteceu a relevância do debate qualificado entre gestores públicos e membros da academia. “Os debates serão mensais, sempre com o foco regional”, revela Resende.
A biomédica Adriana de Brito explicou o motivo de o Coronavid-19 se disseminar rapidamente. “O vírus tem taxa de mutação muito rápida e se adapta aos seres humanos e não temos vacina disponível para ele, por isso se disseminou tão rápido na China”, relata. Adriana diz que estudos já apontam a estrutura proteica do vírus, com isso poderá ser feita uma vacina contra a doença.
A médica Regina Maura Zetone afirmou que a chave para manter o vírus sob controle é a prevenção. Otimista, acredita que o vírus não chegará ao Brasil, mas destacou que medidas já foram tomadas e as redes de saúde públicas/ privadas estão preparadas para o enfrentamento. “Embora sem nenhum caso confirmado, temos de nos preparar como aconteceu com a gripe aviária […]. Temos reservados leitos, até nos hospitais privados, que estão preparados caso haja necessidade de um número grande de internações. Medidas profiláticas e equipamentos para que os profissionais possam trabalhar, como luvas e máscaras, foram comprados, temos estoque em grande quantidade. Todos os municípios se prepararam dessa forma, então a população não tem de se alarmar, deve ter confiança de que a Vigilância Epidemiológica é muito atuante no Estado”, disse. Também lembrou que a maneira mais eficiente de evitar a contaminação, de qualquer doença, é lavar as mãos com mais frequência.
‘Sarampo e dengue’ preocupam mais
O grupo regional de Vigilância Sanitária do Estado, que atua no ABC, tem reunido as prefeituras desde janeiro para informar e tomar ações preventivas. A diretora de Saúde, Angela Maria Moriwaki, disse que o trabalho é conjunto. “Temos trabalhado com apoio de todos os secretários, principalmente, na área preventiva”, contou. Angela destacou que o grupo tem feito treinamentos e levantado todo material necessário. Além disso, realizaram estudo de caso para preparar a mente da equipe para o primeiro caso e, se tiver, não se alarmar porque já enfrentou a Influenza. “O sarampo e a dengue são mais preocupantes no momento”, ressaltou.
Segundo a diretora de Saúde, o mesmo tem sido feito em toda a Grande São Paulo e qualquer unidade médica, mesmo uma UBS (Unidade Básica de Saúde) está preparada. “Todos os hospitais privados ou municipais, a rede básica, já estão em alerta. Tivemos duas suspeitas na região e eram Influenza B. Em todos os hospitais, alguém chegou com suspeita e veio da localidade é colocado em quarentena”, explicou.
O laboratório que faz o diagnóstico se um doente está com o coronavírus é o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. A Vigilância Epidemiológica inclusive estabeleceu um plantão para este Carnaval e em todos os municípios haverá um plantonista para que, em caso suspeito, levar a amostra diretamente para o instituto.
A biomédica da Secretaria Estadual da Saúde, Patrícia Novoa, disse que em todo o Estado 20 mil leitos foram reservados, além de 7 mil vagas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão prontas. Além disso, há três eixos de ação do governo. O primeiro foi estabelecer a referência em diagnóstico que é o Adolfo Lutz, depois o atendimento e o terceiro é a comunicação, pois o Estado está preocupado com as fake news.
Patrícia respondeu a uma pergunta recorrente: será que o vírus chega ao Brasil? “Na América Latina não temos nenhum caso confirmado, único continente que ainda não tem. Se chegar, deverá ser no inverno. Nos últimos 20 anos as três epidemias de vírus respiratórios aconteceram no inverno, quando fica todo mundo fechado, foi o caso da China”, afirmou.
Vacina contra vírus já está em fase de testes
Ao representar os laboratórios privados, Michel Soane, do Euroimmun, disse que o Coronavid-19 é parecido com o Saars em até 85% e os testes iniciais podem ser feitos pelo reagente que já se conhece. Ainda assim, prevê que em pouco tempo haverá vacina. “Em breve vamos ter esse diagnóstico, antígeno, isso já está em desenvolvimento e fase de testes. Desafio é ter amostras para isso. Tem de usar amostras sintéticas”, explicou. Patrícia Novoa completou que revistas especializadas apontam que os testes da vacina serão feitos em breve. “Existe sede por esse conhecimento e acreditamos que em três meses haverá testes em indivíduos”, comentou.
Adriana de Brito, biomédica, disse que crianças, idosos e portadores de alguma deficiência imunológica são mais suscetíveis à doença, mas que também há casos de jovens. Segundo a gestora, os sintomas são muito parecidos com os de uma gripe forte, que se agravam quando não são tratados. “Os sintomas são pneumonia, falta de ar, dores no corpo, muito parecido com uma gripe forte, mas pode ter comprometimento dos rins, fígado e sistema”, explicou.
Durante o debate, internautas participaram do encontro e, no auditório da USCS, professores e alunos também tiraram dúvidas. Luiz Fernando Vale, o Gordinho dos Animais, perguntou se os bichos de estimação poderiam ser portadores da doença. “Não há relato deste novo coronavírus nem em gato, nem cachorro, nem cavalo”, respondeu Soane.
Regina Maura Zetone, secretária de Saúde de São Caetano, disse que o tratamento para o Coronavid-19 é como o da gripe. “Tratamento é sintomático, com hidratação e antitérmico, e se não resolver, internação e UTI. Complicou o quadro com insuficiência respiratória, assim tem de internar. Uma pessoa normal passa bem, enquanto uma criança e um idoso hipertenso, se não tiverem suporte, os casos podem evoluir a óbito”, diz.
Patrícia Povoa disse que se o vírus chegar ao Brasil não fará tantos doentes nem vítimas fatais como na China. “Desde janeiro capacitamos todos os profissionais. Temos nos preparado para isso. Não vamos ser pegos de surpresa. As barreiras estão sendo mantidas, o que é diferente do que aconteceu na China”, completou.