A falta de fiscalização e sinalização quanto aos riscos existentes em trilhas e cachoeiras na região podem resultar em acidentes fatais, caso das ocorrências registradas nas últimas semanas, quando um turista morreu ao cair da Cachoeira da Torre, em São Bernardo, no domingo (19), e outro que despencou da Trilha Funicular, em Paranapiacaba, na semana retrasada (12).
O trilheiro Caio Graco Oliveira Santos, que é bombeiro civil, defende que ambas as ocorrências ocorreram por conta da fiscalização ineficiente em locais desativados e proibidos na região. “As trilhas de Paranapiacaba são conhecidas no Brasil inteiro pelos atrativos naturais e sabemos que atrai o público, legalizadas ou não, mas falta cuidado e fiscalização”, critica.
Justamente diante do risco que pontos proibidos, como a Cachoeira da Fumaça e Trilha Funicular, se tornam atrativo para estes aventureiros. “São pontos famosos por casos de morte, estupro e tráfico de drogas, fatores que atraem o público mais ‘doidão’, que sem conhecimento e fiscalização, acaba acidentado ou até morto”, completa.
Ainda na visão do aventureiro, outro fator que contribui para o alto índice de acidentes é o despreparo de monitores. “Eles recebem formação com noções de sobrevivência e primeiros socorros, mas é algo vago, ministrada uma única vez”, explica. “Como bombeiro, fazemos reciclagem anual para relembrar orientações, o que também deveria acontecer com quem trabalha com turistas”, reflete.
Em contrapartida, Douglas Borges Gomes, morador e monitor na região há 21 anos, defende que a monitoria local gera turismo sustentável e segurança a visitantes. “Antigamente tínhamos mais roteiros com cachoeiras e acesso livre a locais que hoje estão desativados e/ou fechados para nós, que seguimos regras. Isso porque temos perdido espaço para o proibido, monitores clandestinos que colocam em risco a vida dos turistas mais desavisados”, afirma.
Exemplo é o carioca Carlos Eduardo Soares, que veio de São Gonçalo, Rio de Janeiro, no ano passado, somente para conhecer as trilhas de Paranapiacaba, e diz ter voltado insatisfeito para casa após contratar serviço de monitoria via internet. “Pagamos caro pra fazer o passeio e acabamos perdidos. Os ‘monitores’ precisam de treinamento melhor para guiar quem quer conhecer a região”, afirma.
Prefeitura reafirma fiscalização e orienta turistas
A administração municipal informa não há registro de acidentes nas trilhas autorizadas (Parque Nascentes e Parque Estadual da Serra do Mar), exceto o ocorrido neste ano, em área particular. Ainda que considerado crime ambiental pelo decreto federal 6514/2008 art. 90, com multa que pode chegar a R$ 10 mil, o secretário de Meio Ambiente, Fabio Picarelli, destaca que a invasão de áreas de conservação é frequente, porém incontrolável. “Não temos como fiscalizar áreas privadas, caso do ocorrido na Trilha Funicular. O que fazemos é orientar os turistas para passeios e atividades legalizadas”, afirma.
Atualmente, Santo André dispõe de 46 monitores credenciados para realização dos passeios, além de oito agências que operam na região. O visitante pode contratar o serviço de monitoria ambiental oficial diretamente no Centro de Visitantes do Parque Nascentes de Paranapiacaba, que funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 15h, na rua Direita, 371.
Entre as opções para passeio estão o Parque Municipal Nascentes, com seis trilhas de lazer, Parque Estadual da Serra do Mar e outras atrações na Vila, como o Museu Funicular, administrado pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), o Museu Castelo, a Casa da Família Ferroviária e outros. Todos locais com fiscalização.
Treinamento
Em entrevista ao RD, o secretário garantiu que com o lançamento do programa Empreender no Turismo em Paranapiacaba, lançado neste dia 20 de janeiro, monitores e funcionários vão receber novos treinamentos e atualização sobre os pontos turísticos da cidade, a fim de evitar novos incidentes.
Com os recentes investimentos, a estimativa é que, anualmente, a Vila receba 250 mil visitantes, e promova o atrativo turístico da região. Atualmente a região recebe média de 11 mil pessoas/mês. (AL)