Crise na Argentina e a lenta recuperação da economia nacional fizeram a balança comercial do ABC acumular um déficit de US$ 148 milhões de janeiro a novembro deste ano, situação inversa do mesmo período de 2018 que teve superávit de US$ 426 milhões. O resultado faz parte do 20º Boletim EconomiABC elaborado pela Universidade Metodista que aponta ainda uma sensível melhora da massa de renda, resultado do pagamento de salários nos empregos formais, de 3,2%.
A atividade industrial, em especial a cadeia automobilística, e o mercado de trabalho do ABC sofrem a ação da crise argentina. Entre janeiro e novembro houve retração de 31,9% dos valores exportados e de 22,3% do montante importado, resultando em uma redução de 27,3% da corrente de comércio exterior da região até novembro de 2019, aponta a pesquisa. O principal determinante desta redução foi a retração econômica da Argentina, principal parceiro do Brasil. Até novembro, o fluxo comercial com a Argentina reduziu-se em aproximadamente 48%, comparado o volume comercial transacionado entre o ABC e aquele país em todo ano de 2018. Em especial a cadeia automobilística tem se ressentido desta retração nos últimos meses, com impactos sobre a atividade industrial do segmento e consequentemente sobre o mercado de trabalho.
“O ABC ainda é muito dependente da indústria automobilística e o nosso principal parceiro, a Argentina, está em crise. A região sente diretamente porque está mais próxima, os outros mercados como Europa e México não favorecem o ABC pela distância”, comenta Sandro Renato Maskio, economista e coordenador de estudos do Observatório Econômico da Metodista.
Uma esperança de melhora para o próximo ano é abertura, pelo governo paulista, da utilização dos créditos acumulados de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pelas empresas para a compra de ferramentais o que, segundo o estudo, pode recompor parte da capacidade produtiva do ABC. “Esta ação atende à necessidade de uma política que torne viável o desenvolvimento produtivo e a ampliação de sua competitividade. É esse o raciocínio seguido pelas economias que hoje estão entre as mais desenvolvidas do mundo, incluindo países asiáticos de industrialização recente”, afirma Maskio sobre o Pró-Ferramentaria, que prevê que o setor automotivo deverá adquirir de fornecedores de São Paulo 90% dos bens, mercadorias e mão-de-obra para usufruir da monetização.
Mas enquanto isso não acontece a indústria permanece estagnada. No ABC, opera com 40% de ociosidade. Sandro Maskio, salienta, no entanto, que a massa salarial tem se recuperado de forma igualmente lenta. O último mês de outubro registrou renda média de R$ 3.210 por trabalhador em emprego formal na região, 1,9% maior do que em outubro de 2018.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o desemprego na região metropolitana 13,1% da População Economicamente Ativa e o ABC segue a mesma trajetória. “O emprego cresceu pouco no setor de serviços, mais nas áreas técnicas administrativas. A indústria cresceu um pouco também, mais no efeito do ritmo lento de recuperação econômica do país”, explica o pesquisador.
Enquanto o emprego e a massa salarial avançam lentamente a inflação da região galopa. Pesquisa mensal da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) e realizada nas sete cidades aponta que a cesta básica na primeira semana de dezembro deste ano ficou em R$ 659,99 contra R$ 597,03, alta de 10,5%.