Naira Naomi Motoki Tanaka, vítima do feminicídio registrado em São Caetano na segunda-feira (09/12), já tinha medida protetiva contra o autor Elercione Almeida Nascimento, desde 16 de junho deste ano. Depois de ter procurado a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) pela primeira vez, a vítima foi mais duas vezes à delegacia registrar boletins de ocorrência relatando o descumprimento da medida. De outro lado Nascimento também fez boletins de ocorrência relatando que era perseguido pela ex-companheira.
As brigas tiveram início quando Naira vendeu o apartamento e Nascimento se recusava a deixar o imóvel. “Eles tinham uma relação muito conturbada”, relatou a delegada Luciara de Cassia da Conceição Campos, titular do município e que acompanhou o caso. “No dia 16 de junho ela procurou a DDM relatando que o autor a perseguia e obteve a medida protetiva depois fez dois boletins de ocorrência relatando o descumprimento da medida. Ele, por sua vez, fazia boletins alegando que os fatos relatados por ela eram inverídicos, que ele chegou a perder o emprego porque ela o perseguia”, disse a policial.
A relação conturbada teve fim na manhã de segunda-feira, por volta das 7h50 na rua Conselheiro Lafaiete, no bairro Barcelona, quando o homem sacou de uma arma de fogo e efetuou disparos contra a ex-companheira e depois atentou contra a própria vida. A mulher morreu no local e o homem ainda chegou a ser socorrido, mas morreu horas depois na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade. Uma testemunha contou à polícia que os dois estavam discutindo na rua antes dos tiros.
No local do crime foram apreendidos três celulares, um CD e uma pistola calibre 7.65. A arma tinha numeração raspada, o que dificulta a descoberta de sua origem. Elercione não tinha porte de arma, muito menos para aquele tipo de armamento que é de uso restrito.
Para Dulce Xavier, integrante da Frente de Enfrentamento à Violência contra a Mulher do ABC, a morte poderia ter sido evitada se houvesse um acompanhamento social, dentro de uma rede de atendimento à mulher vítima de violência. Em São Caetano há um Creas (Centro de Referência em Atendimento Social). “Tem que ter uma rede de atendimento com profissionais que façam a mulher acreditar que quem ameaça mata. Essa rede tem que estar integrada; o boletim de ocorrência é importante, a medida protetiva também, mas o principal é a integração dos serviços entre a polícia, a prefeitura, guarda municipal e as casas-abrigo. A delegacia registra, mas não oferece apoio social e psicológico que oriente a mulher sobre o risco que está correndo e como adotar comportamentos preventivos”, analisa.