O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) informou em breve nota que o Grupo Caoa não chegou a pedir empréstimo para a compra da planta da Ford de São Bernardo, que encerrou as atividades nesta quarta-feira (30), após 52 anos de atividades no município. O secretário estadual da Fazenda, Henrique Meirelles, disse no dia 17 de outubro que a dificuldade maior do grupo seria conseguir o empréstimo junto ao banco de fomento. O pedido seria de R$ 3 milhões.
“O BNDES se reuniu com a Caoa, como faz com qualquer potencial cliente. No entanto, não houve formalização de nenhuma proposta de financiamento e a empresa não possui operação com o banco”, informou o órgão federal de crédito. A Caoa foi ainda mais breve na nota, limita-se a dizer que não há “novidades sobre o assunto”. Em setembro, durante entrevista coletiva no Palácio do Governo, ao lado do governador João Doria (PSDB) e do presidente do Conselho de Administração da Caoa, Carlos Alberto Oliveira Andrade, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), disse que os planos A e B (para a compra da Ford) são com a Caoa e que o acordo seria celebrado até outubro.
O empenho de Estado e Prefeitura ainda não resultou em definição que impacte principalmente nos postos de trabalho, já que 600 operários ativos na linha de produção de caminhões estão sendo demitidos. A negociação leva em conta a contratação destes trabalhadores com salários correspondentes a 70% ou 80% do valor atual. O secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Hiroyuki Minami, está preocupado. “Para eles (Ford), a decisão de fechar uma unidade é tranquila, mas para nós o impacto é enorme, porque não afeta só a receita com impostos, gera desemprego”, diz.
Minami avalia que, apesar da compra ainda não ter sido concluída, as negociações não se esgotaram e diz que o prefeito tem mantido contato constantemente com o presidente da Caoa. “O prefeito ainda trabalha esta questão, ele liga diretamente para o Carlos Alberto com frequência. Eles têm um bom contato, assim como o governador João Doria foi muito ativo nesta questão, então com essa indefinição tudo pode acontecer”, diz.
Preocupado também com o quadro é Rafael Marques, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e que dirige o TID (Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento). “Sei que o Carlos Alberto e o Lyle Watters (presidente da Ford para a América Latina) têm feito reuniões regulares. A questão é que a Caoa precisa de financiamento, por isso o nosso foco agora é o BNDES”, diz o dirigente, que considera a nota do banco dúbia. “Prefiro interpretar que não há financiamento formalizado ainda, porque dinheiro o banco tem e não é possível negar a uma empresa que tem capital, que tem lastro e garantias. Já pedimos audiência no banco”, afirma.
História
A Ford não se manifestou sobre a negociação com a Caoa. A fábrica de São Bernardo nem sempre produziu veículos Ford, antes de ser adquirida pela montadora americana. Nas instalações do bairro Taboão eram produzidos desde 1959 veículos Willys-Overland. A montadora comprou a planta em 1967 e ali passou a produzir o Corcel, o Galaxie 500 e a picape F-100. Na década de 1980 a produção incluiu o Corcel II, a Belina, o Del Rey e a picape pequena Pampa. Também foi lançado nesta época o Escort, o primeiro modelo mundial no País, modelo igual ao europeu. Nos anos 2000, trouxe para São Bernardo a produção de caminhões, até então em São Paulo. O último carro que saiu da fábrica foi o Fiesta, em setembro.
No ano passado a fábrica chegou a empregar 3 mil trabalhadores. Com o anúncio por parte da matriz de fechar a unidade, foi aberto um plano de demissões voluntárias e vários trabalhadores aderiram. A última linha de montagem, a dos caminhões Cargo, parou quarta-feira (30).