Com o crescimento das cidades as árvores têm levado a pior. Nas últimas semanas dois episódios chamaram atenção: em Diadema, a Prefeitura eliminou 14 árvores e remove outras durante a reforma da praça Castelo Branco, que vai ganhar um bolsão de estacionamento. Em Santo André, para aumentar a oferta de vagas para carros no entorno do Paço, a Prefeitura quer remanejar árvores. Enquanto isso, as cidades sofrem problemas com podas e supressões não autorizadas e as administrações sequer têm levantamentos precisos sobre as áreas verdes.
Os municípios informam que contam com biólogos e engenheiros agrônomos para planejar e fiscalizar as podas ou supressões irregulares, mas o fato é que, sem um mapa preciso sobre o número de exemplares arbóreos e as espécies, o controle fica deficiente. Santo André, Diadema e Rio Grande da Serra não têm inventário. Apenas Mauá informa que possui o levantamento. Em Rio Grande da Serra, o plantio é feito por compensação ambiental, mas a cidade não informa quantas foram plantadas do ano passado para cá. Já Diadema relata que em 2018 plantou 650 mudas e para este ano a meta é de mil mudas.
São Bernardo possui mais de 500 áreas verdes e não tem censo arbóreo. Há, de forma empírica, um número estimado de árvores. Em 2018, foram plantadas 2.979 espécies, entre alfeneiros, ficus, ipês, sibipirunas, tipuanas, pata de vaca, schinus, resedá, murraia, mirindiba, manduirama e jacarandás. Em 2019, prioriza exemplares nativos da Mata. Somente na obra do Centro Seco foram plantadas 1.312 mudas de espécie nativas da Mata Atlântica.
Para Tassiane Pinato, professora de Gestão Ambiental da Universidade Metodista, essa situação é irregular. “Existem diretrizes que fazem o controle de número de árvores por região, se a Prefeitura não cumprir as diretrizes o Estado precisa intervir para cobrar em forma de punição, com pagamento por serviços ambientais ou multa. É preciso uma fiscalização efetiva do governo, mas isso muitas vezes não acontece”, afirma.
Mauá é quem tem mais dados sobre os exemplares, porém não relata a quantidade. “Temos um cadastro de árvores que são registradas, hoje com cerca de 6 mil catalogadas. Além disso, a Prefeitura sempre planta mudas, desde 2018 numa média de 800 árvores e a estimativa é que chegue a 5 mil em 2020”, diz. Em Santo André, o inventário em área pública começou em 2017 e continua. Atualmente, tem aproximadamente 80 mil árvores na cidade, contabilizou a administração que diz ter mais de 3 mil árvores desde setembro de 2018.
Coqueiros apenas bonitos
O professor mestre em tecnologias ambientais da Fundação Santo André, João Mucciacito, diz que as prefeituras têm de ter o inventário das árvores, da mesma forma que têm de carros e pessoas, como forma de balizar políticas públicas. “Não ter é ruim, pois fazem plantios sem controle. A avenida Dom Pedro II [Santo André] têm aqueles coqueiros bonitos, mas não representam a flora da região”, analisa.“Não se tem a noção da saúde destas plantas, muitas têm cupins, com risco de queda”, critica. Mucciacito diz que carro sempre levou vantagem sobre as árvores. “Em Santo André a remoção de algumas árvores é necessária porque estão doentes”, completa.
Para Tasiane, o corte de árvores é lamentável. Elas capturam CO2 da atmosfera e contribuem para diminuição de doenças, como depressão e ansiedade. Sem falar que são essenciais para o equilíbrio do planeta, desempenham funções vitais como o controle da temperatura, aumento da umidade do ar, maior controle das chuvas e qualidade dos mananciais”, analisa.