O Ministério da Saúde estima que 85% dos portadores com HIV sabiam que conviviam com o vírus no Brasil em 2018. Dos 563 diagnosticados ano passado na região, cerca de 21% tiveram diagnóstico tardio, com doença avançada. O índice preocupa os especialistas, porque os infectados continuam a transmitir o vírus por vários anos e estão sob risco de adoecimento e morte pelo HIV, sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana, causador da AIDS.
A infectologista de Santo André, Elaine Matsuda, considera que, em média, 180 pacientes sem tratamento prévio, são admitidos no Centro de Especialidades em Infectologia do município, por ano. “O primeiro passo para quebrar a cadeia de transmissão é aumentar o número de pacientes testados, para que dessa forma os infectados saibam do diagnóstico, possam ser vinculados no tratamento e parem de transmitir o vírus”, defende.
Um número razoável de pessoas não sabe que tem o vírus, e na visão da médica, consequentemente, sem o tratamento adequado, dá continuidade à cadeia de transmissão. “Pelo vírus apresentar sintomas semelhantes a outras viroses, o diagnóstico na fase aguda, semanas após a infecção, passa despercebido”, explica. Porém, após um mês da contaminação, os anticorpos são facilmente identificados nos exames de sangue, até mesmo por testes rápidos disponíveis que dão o resultado em 10 e 20 minutos. “Por esse motivo, a recomendação para que as pessoas busquem pela testagem no serviço de saúde mais próximo”, enfatiza.
A batalha para o combate da AIDS é ainda mais dificultada entre os homens heterossexuais que, de acordo com Elaine, não se sentem em risco e têm diagnóstico tardio. “Eles ainda têm a ideia de que o HIV é um vírus exclusivo dos homossexuais, mas não, os heterossexuais também precisam se preocupar”, acrescenta.
Dados divulgados pelas prefeituras da região revelam que, de janeiro até o momento, 394 pessoas foram diagnosticadas com o HIV. No ano passado, foram 563. O número, no entanto, preocupa a médica. “Não podemos olhar somente para o número de diagnósticos, e sim para o número de pessoas testadas para o HIV, pois a falta de diagnóstico e consequente tratamento são fatores determinantes para o fim da epidemia”, diz.
Jornada contra AIDS
Para chamar atenção sobre o problema, Santo André abriga, neste sábado (26), a 1ª Jornada de Atualização em HIV do ABC. O objetivo é certeiro: motivar os profissionais da rede pública de saúde a quebrar a cadeia de transmissão da AIDS, e de forma dinâmica, discutir maneiras de aumentar o diagnóstico, iniciar e manter a adesão de tratamento.
Na programação estão o especialista em Gestão de Pessoas, Ricardo Mota, que fará palestra motivacional sobre Diversidade e Preconceito; o pesquisador Luís Fernando de Macedo Brígido, com o tema Epidemia do HIV; o gerente médico Jucival Fernandes e o infectologista Juvencio Furtado com a importância de manter o indivíduo com carga viral indetectável; e o infectologista Ricardo Diaz, com os avanços na medicina e o que é possível fazer para uma cura futura. Haverá apresentações teatrais com dramatizações de casos clínicos e no encerramento participação do cantor Fabio, cover do Cazuza.
Pioneira na região, a ação conta com apoio da Secretaria da Saúde de Santo André, do Programa Estadual e dos Programas de IST/AIDS da região, e deve atrair quase 200 profissionais. “Estamos empolgados. Diferente de outros eventos com apenas palestras científicas, esperamos motivar todos os envolvidos com ações dinâmicas no exercício da empatia”, afirma a infectologista e responsável pela Jornada. O encontro acontece no Hotel Mercure, a partir das 8h.