Presentes, viagens, rematrícula e materiais escolares. Para quem já tem dívidas, o fim de ano é momento delicado e todo cuidado é pouco para não apertar ainda mais o orçamento. Muita gente recebe 13º salário – a primeira parcela sai até dia 30 de novembro –, que ajuda a aliviar o bolso, mas a recomendação é primeiro pagar as dívidas e depois planejar os gastos para não ter mais dor de cabeça.
Ainda no processo de se organizar financeiramente após demissão em 2015, o representante comercial José Fernandes Júnior, de São Caetano, afirma que a família reduziu supérfluos, como jantares fora de casa, e pretende controlar os gastos nas festas de fim de ano. “É um momento propício para gastos altos, né? Então, já conversamos com os filhos [de 2 e 7 anos] e explicamos a situação. Esse ano será só uma lembrancinha”, afirma.
Para Fernandes, a reeducação financeira foi crucial para passar pelo momento mais crítico, quando ficou desempregado e a mulher também. De volta ao mercado há quatro meses, o representante começa a pagar os credores. “Agora que minha esposa também está empregada, estamos colocando as contas em dia. Ter organização foi muito importante”, declara.
Quem também não pretende gastar muito no fim do ano para não se endividar é Elaine de Castro, de Santo André. Após passar por redução de salário e troca de emprego fixo por negócio próprio, em 2017, a confeiteira contraiu dívidas no cartão de crédito. Hoje, além de não ter mais o cartão e de fazer cortes em despesas, paga tudo à vista, pede desconto e anota os gastos para ter maior controle. “Não quero talão de cheque ou cartão de crédito”, afirma. Para não se enrolar novamente, não vai dar presentes no fim do ano e pretende pagar a rematrícula e os materiais didáticos da filha no boleto. Os demais itens, comprados em lojas que não oferecem essa opção de pagamento, serão pagos à vista. “Apesar das restrições, é bom porque a gente fica mais controlado”, comenta.
José Turíbio de Oliveira, doutor em administração e pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Fundação Santo
André, afirma que quem quer se organizar deve priorizar os gastos mais urgentes, focar neles e cortar o desnecessário. Isso inclui despesas feitas com o 13º salário que, se possível, deve ter parte guardada como preparação para o início do ano, período de grande dispêndio de dinheiro. “Aí sim, se sobrar algo, pode gastar, mas de maneira consciente. Não compre o que não precisa”, recomenda.
Para escolher onde gastar ou investir o dinheiro, Oliveira ensina pensar no custo-benefício e tentar, ao longo do ano, separar de 10% a 15% do orçamento mensal para investimento e formação de reserva de emergência. Quem já tem dívidas contraídas pode procurar os credores e tentar negociar taxas de juros para reduzir um pouco do valor a ser pago.
Na visão de Vinicius Silva, professor do curso de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e especialista do Procon São Paulo, planilhas e aplicativos podem ajudar a entender um pouco mais sobre o orçamento mensal. “Se você sabe o que ganha, aí consegue ver onde está distribuindo seu dinheiro. O controle é sempre interessante”, orienta. No fim de ano, Silva recomenda evitar o descontrole, principalmente, em razão do momento na economia ser de incerteza. “É importante alinhar os gastos também com as expectativas futuras para não gerar dores de cabeça orçamentárias”, completa.