Em solidariedade à jovem Nathália Gastaldo, 26, proibida de assistir aula com o filho Abel, de 4 anos, na UFABC (Universidade Federal do ABC), campus São Bernardo, no dia 8, o Coletivo de Mães e Pais, formado por estudantes, docentes e entidades, e o Diretório Central de Estudantes, organizaram nesta quinta-feira (17) ato de repúdio no campus Santo André, para cobrar da universidade acolhimento de mães nos campi. De acordo com representantes do movimento, o Plano de Desenvolvimento Institucional da UFABC estabelece a inclusão social como um dos fundamentos da instituição ao lado da excelência e interdisciplinaridade, no entanto, a integração está longe de acontecer.
Além de ser proibida de assistir as aulas de Bases Epistemológicas da Ciência Moderna, a aluna do curso de Ciências e Humanidades diz ter sido constrangida na frente de outros estudantes, apenas porque estava acompanhada do filho. A mãe alega que trabalha de manhã e de tarde, e nem sempre tem com quem deixar a criança na hora em que vai estudar, à noite.
Segundo Nathália, logo no início da aula, recebeu perguntas e comentários hostis sobre a presença da criança. “A partir daí começaram um questionário e constrangimento na frente de todos de classe com perguntas sobre meu filho”, relata. Ainda no decorrer da disciplina, enquanto os alunos produziam atividade, a mãe conta que a criança tentou aproximação com a professora, ainda sem sucesso. “Ele tentou oferecer um salgado, mas foi repreendido”, acrescenta.
Colegas de Nathália contam que, um dia após o ocorrido, receberam e-mail da professora com o informe: “Aos alunos do grupo de seminário sobre ‘Copérnico’, comunico que a aluna Nathália Gastaldi NÃO está autorizada a participar das atividades relacionadas ao seminário”, diz. A jovem diz estar decepcionada com a postura da professora, porque não foi contatada sobre a proibição.
No ano passado, algo parecido aconteceu, e a mãe trancou o curso por pelo menos três quadrimestres para conciliar sua rotina de trabalho e maternidade, sem prejudicar os estudos. “Levo o Abel no máximo duas vezes por semana, e ainda assim sempre recebi olhares e comentários hostis”, relata.
Em 2017, a mãe que é natural de São Caetano comemorava a retomada na vida estudantil. Foi aprovada em primeiro lugar no curso de humanidades da UFABC, como cotista por ser aluna da rede pública, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Mesmo com as dificuldades e recebimento de comentários agressivos, Nathália afirma que não se desanima da rotina acadêmica.
Apoio e solidariedade
Sem regulamentação de leis a respeito do assunto, a professora e doutora da Faculdade de Direito de São Bernardo, Carmela Dell’Isola afirma que faltam políticas públicas de inclusão para as estudantes mães que sofrem com estes problemas. “Na legislação não existe algo que regulamente a inclusão, mas até por questões pessoais o ideal seria que a universidade se palpasse na solidariedade e empatia para dar direção correta à mãe e à professora com consenso entre as partes”, afirma. A diretora de Mulheres do DCE, Allana Mattos dos Santos, afirma que o diretório presta apoio à Nathália e outros estudantes que enfrentam discriminações, preconceitos ou injúrias. “Queremos uma explicação e estamos orientando a aluna para organizações de apoio a mulheres vítimas de violência, que temos contato. Não vamos deixar barato”, alega.
Em nota, a UFABC informa que tomou conhecimento sobre o fato, orientou a aluna para que a mesma apresentasse sua queixa aos órgãos de controle da instituição e deram início ao processo de apuração de fatos. A instituição afirma ainda que foi atendida a solicitação da aluna de ser transferida de sala de aula. O caso é acompanhado pelas duas pró-reitorias da universidade.