O enlace entre morte e vida é fato que, mais cedo ou mais tarde, toda raça humana se depara. Apesar de natural, o fim da própria existência – ou dos que amamos – é algo que a maior parte da população prefere não pensar, já que o assunto traz apreensão, medo e ansiedade. Discutir o tabu da morte e sua relação com o dom da vida é a proposta da peça Os Corvos, que volta à região para apresentação única no Sesc Santo André, neste domingo (13).
Luis Ferron, coreógrafo, ator e idealizador do espetáculo, conta que tudo começou em 2006, quando voltou a morar com os pais e pôde perceber a cada dia o processo de envelhecimento e aproximação da morte que acontecia com eles. Após o falecimento de ambos e de passar pelo processo de luto, o artista relata que a figura do corvo, pássaro frequentemente associado com morte e mau agouro, ficou na cabeça e, em meio a estudos que buscavam transformar a dor em arte, encontrou definições na mitologia que o associavam ao mensageiro entre os dois mundos, que transita entre a vida e a morte. “Aí eu entendi tudo. Foi isso que senti nesse tempo com meus pais. Eles estavam aqui, mas cada vez mais próximos do lado de lá”, reflete.
Os estudos, saudade e outros sentimento ficaram guardados e foram maturados por quase quatro anos, até que, em 2017, a peça tomou forma. Para que houvesse ainda mais sentimento em cena, Ferron convidou o também coreógrafo Luis Arrieta, veterano no ofício, para fazer parte do projeto. Além da admiração, ambos puderam partilhar as experiências com as perdas dos pais, ainda que tenham acontecido de forma distinta. “Eu vivenciei a partida dos meus pais de perto e o Arrieta, que é argentino, viu isso de longe. Tudo isso foi muito discutido entre nós na produção do espetáculo”, conta Ferron.
A dupla descobriu, ainda, outras formas de encarar a morte advindas de diferentes culturas e, por meio da poesia e da arte, buscam transmitir ao público a mensagem de que há outras maneiras de passar por esse momento sem tanta dor. “O sofrimento é grande, mas hoje já enxergo de outra maneira. É impressionante como até isso nossos pais ensinam para a gente, que a vida tem um fim”, completa.
Como resultado, o público pode esperar uma apresentação sensível, cheia de dicotomias entre vida e morte, início e fim, sombras e luz, representadas por enredo, trilha sonora e jogos de luz que brincam com os dois lados. Embora dolorido, Ferron afirma acreditar que é papel do artista abordar temas assim e gerar reflexão no público. “Todas essas questões, varridas para baixo do tapete, devem aparecer. É nossa realidade, não adianta tentar esconder”, afirma Ferron, que divide o palco com Arrieta, embalados na sinfonia 6, a Patética, de Tchaikovsky.
Os Corvos – Domingo (13), às 18h, no Sesc Santo André – rua Tamarutaca, 302 – Vila Guiomar. Ingressos a partir de R$ 9, disponíveis no portal Sesc SP e nas bilheterias da rede Sesc. Para maiores de 12 anos.