Noite de atitude

Misturando o peso do hip hop paulistano de Emicida com a world music contemporânea do duo franco-cubano Ibeyi, o Palco Sunset testemunhou, no início da noite de quinta, um dos encontros mais aguardados desta edição. E eles foram ovacionados em mais de um momento.

Em um prosseguimento da curadoria atenta que o Sunset ostentou até agora, o rapper paulistano – também à frente da Lab Fantasma, empresa gravadora que se tornou modelo de negócios para o hip hop brasileiro – dá uma aula de como aproximar outros gêneros da música rap que o consagrou.

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Com uma banda completa no palco (de percussão a trompete, com o DJ Nyack comandando o espetáculo que tem direção musical de Marcio Arantes), o show passeia por ritmos latinos e africanos, ligando os artistas às ancestralidades em comum, um dos pontos de ligação do show.

Mas Emicida sabe fazer rap e o show tem sucessos mais antigos como A Chapa é Quente (2009), Bang e Hoje Cedo, de 2013 (cantada do início pela plateia e com refrão em português das Ibeyi, duas constantes no show), Passarinhos (2015) e a mais recente Pantera Negra (2018).

“Rock in Rio, façam barulho para Sabotage, Chorão, Champignon, pessoas que lutaram antes para que estivéssemos aqui agora”, pede Emicida, uma estrela no palco. “Liberdade para DJ Rennan da Penha!”, grita em outro momento, referindo-se à condenação apontada como contraditória do principal produtor do Baile da Gaiola, no Rio, celeiro de talentos do funk nacional nos últimos anos.

Numa participação daquelas consagradoras, a cantora Majur subiu para cantar sua parte de AmarElo, single do novo disco de Emicida, a ser lançado ainda neste semestre. Com um sample de Sujeito de Sorte, a música aborda um tema sensível para o rap contemporâneo.

É ainda nas músicas que Emicida e Ibeyi lançaram juntos (Hacia El Amor e Libre, esta também do disco novo) que a conexão se cristaliza – Emicida cantando em espanhol, as Ibeyi em português, levando do funk brasileiro à música dance alternativa com a distância de apenas um verso.

Dona Onete

Foi ela quem comandou o show inédito e exclusivo Pará Pop no Palco Sunset do Rock in Rio 2019 na tarde desta quinta-feira, 3, retomando a maratona de shows que vai até o próximo domingo, 6. A tarefa foi fácil com sucessos na ponta da língua do público, como Jambu Treme e No Meio do Pitiú. O encontro ainda viu subir ao palco Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Jaloo (de disco novo na bagagem) e Lucas Estrela (jovem guitarrista paraense que antes trabalhou como roadie para alguns desses nomes).

“É um orgulho receber o estado do Pará no Rock in Rio”, disse o curador do Sunset, Zé Ricardo, antes do show começar. No palco, Dona Onete ensina para o Brasil o que é o carimbó. Na sua versão, ele vem “chamegado”, para dançar juntinho mas também, como ela mostrou com seus trabalhos na última década, para tomar conta de uma parte significativa das pistas de São Paulo e Rio.

Gaby Amarantos, a próxima a subir ao palco, seguiu na seara sintetizada, mas trouxe sua qualidade pop para o tecnobrega, com canções como Xirley e Ex Mai Love (2012). Jaloo, sempre carismático, e Manoel Cordeiro, um dos fundadores da guitarrada paraense, prepararam o palco para a chegada de Fafá.

De caracterização indígena no rosto, a voz de Belém completa uma seleção bem pensada, que termina o show com uma festa de Banzeiro, de Dona Onete – de carreira tardia, aos 80 anos, uma das compositoras mais sofisticadas da geração atual da música popular brasileira.

Capital Inicial

Um mar de gente com camisetas pretas não perdia tempo para se aproximar da banda. Capital Inicial se apresentou pela sétima vez no Rock in Rio, todas abrindo para o Red Hot. Não é estranho perceber a emoção de um público fascinado. O rock continua fazendo barulho com esses caras. “Adrenalina está correndo aqui nas minhas veias”, confessou Dinho Ouro Preto.

Independência e Música Urbana reafirmaram o coro que conhecia todos os versos. “Tudo quase errado mas tudo bem, tudo quase sempre como eu sempre quis.” As canções mais calminhas também deram as caras. “Acho que não tocamos essa desde 2001”, lembrou o vocalista sobre Tudo que Vai.

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