Apesar de alguns percalços no caminho, a Cia da Matilde completa 15 anos, com direito à exposição cenográfica, aberta até o dia 28, no salão nobre da Câmara de São Caetano, cidade onde nasceu. Objetos de 16 espetáculos e 510 apresentações, que marcam passagem de 117 atores pela companhia, dão corpo e forma à mostra gratuita, com figurinos, fotografias e adereços de cena, que contam a história da Matilde nos palcos.
Para Erike Busoni, diretor da companhia, depois de mais de três meses de levantamento e estudo sobre a história da Matilde, o balanço dos 15 anos foi favorável, embora o cenário externo da cultura não seja tão positivo. O artista acredita que ainda faltam ações para fomentar e estimular atividades culturais no ABC, reflexo do desmonte pelo qual a cultura passa em todo o País. “O momento da cultura na região não é muito favorável. Penso que precisamos de gestores que tenham mais familiaridade com a produção cultural da região e incentivem isso”, afirma.
E foi com objetivo de continuar a fortalecer essa produção que a companhia conseguiu se reerguer de uma de suas maiores crises. Em dezembro de 2017, afetados pelos altos preços do mercado imobiliário, que resultou na perda de espaço e na diminuição de ações socioculturais, os artistas da companhia tiveram de encerrar as atividades organizadas no galpão Universo Cultural Matilde, inaugurado em 2009. Após quatro meses, a companhia retomou as atividades.
Atualmente, apesar de não contar com sede própria, o coletivo segue com estudos de peças e mobilização de 12 atores para novos espetáculos. Entre os envolvidos estão o diretor Evas Carretero, a bailarina Magali Costa e a produtora Adryela Rodrigues, única integrante de fora do ABC. Desde então, o grupo já percorreu o Estado de São Paulo com 40 apresentações e continua a sonhar com local próprio para os ensaios e guarda de material. “Mós ensaiamos na casa de amigos, dividimos o acervo na casa dos integrantes e vamos tocando assim [risos]”, brinca ao afirmar que a perda do galpão, apesar de dolorosa, permitiu novo foco para a companhia, que pôde retomar estudos e focar mais na produção teatral.
Virada e nova peça
Em novembro, ainda sem data e local definidos, a companhia planeja a 33ª edição do Sarau da Matilde. Com caráter anárquico, a atividade propõe uma virada cultural, sem programação fixa, o que permite livre manifestação de artistas presentes no local. Além disso, no primeiro semestre de 2020, está prevista estreia de espetáculo, cujo nome não foi revelado. As novidades podem ser checadas nas redes sociais da companhia.
Nesta sexta-feira (20), A Megerinha, baseada na obra A Megera Domada, de William Shakespeare, será apresentada na Câmara da cidade, em duas sessões, às 9h e às 13h, exclusivas para alunos da rede municipal de ensino. A nova montagem, que acaba de estrear, é a primeira da companhia voltada para o público infantil e foi adaptada em conjunto com o cearense Moreira de Acopiara, cordelista de Diadema, com mudanças sutis no final, que incluem a apresentação nos debates atuais sobre machismo.
Em conjunto com outros coletivos artísticos da região, a companhia teatral quer continuar a movimentar não somente a área de espetáculos, mas também a economia local e criativa do ABC. “Se os grupos estiverem unidos e coesos, conseguimos fazer isso”, completa Busoni.