O tema discriminação racial e o papel da Segurança Pública norteou a palestra de Benedito Mariano, ouvidor da Polícia de São Paulo, realizada nesta quinta-feira (19/9), no Consórcio ABC, em Santo André. A apresentação integrou a formação regional para servidores públicos sobre atendimento à população negra e enfrentamento ao racismo, promovida desde agosto pela entidade.
Mestre em Ciências Sociais e graduado em Sociologia, Mariano contextualizou como o racismo está enraizado na sociedade e influencia a violência policial. “A expressão ‘marginal’ tem origem na tardia abolição da escravidão no Brasil, quando pessoas de outros países começaram trabalhar nas funções exercidas pelos escravos e os negros ficaram sem empregos e à margem da sociedade”, explicou.
Para o ouvidor, uma maneira de desconstruir o estereótipo racista das polícias é a abordagem do assunto na formação policial e por parte de lideranças da sociedade civil, de modo que esta união ajude na quebra de preconceitos históricos de ambos os lados. “A urgência da questão se mostra nos números. Em 2017, 940 pessoas foram mortas pela Polícia no Estado de São Paulo. O que comprova o racismo é que 65% eram negras. Deste total, posso afirmar que 99% são pobres. O perfil da vítima de violência policial é jovem, pobre e negro”, afirmou.
Apesar da violência cometida pelos policiais, o ouvidor destacou as dificuldades enfrentadas por profissionais que atuam na polícia. Como exemplo, citou que os números de suicídios entre policiais militares estão próximos das mortes em trabalho, enquanto na Polícia Civil os registros de suicidas superam os óbitos em serviço. Os principais fatores que influenciam essa estatística, segundo ele, são baixos salários, longas escalas de trabalho e pouca preparação para lidar com as problemáticas da profissão.
O ouvidor destacou a influência do Consórcio ABC como paradigma para outras regiões do Estado e do País na realização de políticas públicas conjuntas. Coordenador do GT Segurança Pública da entidade regional entre 2011 e 2015, Mariano participou diretamente da estruturação do CRFSU (Centro Regional de Formação em Segurança Urbana), que é mantido pela entidade e faz treinamento de GCMs (guardas civis municipais) da região.
“Tudo que se cria em termos de consórcios no País tem como referência o Consórcio ABC, que é um marco da gestão pública no País. Consegue reunir prefeitos de sete cidades, independentemente da posição ideológica ou partidária, para conversar, estabelecer diretrizes e pensar a região”, afirmou.
Em relação ao CRFSU, Mariano destacou que a unidade é pioneira do gênero em caráter regional no País para integrar as ações das GCMs e busca proporcionar uma formação de caráter integral e humanizado. “Quando criamos o Centro de Formação, estruturamos uma grade curricular nova que teve a questão da discriminação racial como um dos temas fundamentais”, explicou.
A formação regional para servidores públicos sobre atendimento à população negra e enfrentamento ao racismo é organizada pelo GT Igualdade Racial do Consórcio ABC e conta com 12 palestras, uma por semana, sempre às quintas-feiras, até 24 de outubro.