A possível implantação de rodízio ou inspeção veicular para a região do ABC foi apontada por João Carlos Mucciacito, químico da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), como meio para reduzir a poluição. A declaração foi dada durante o Seminário Práticas Sustentáveis no Polo Grande ABC, organizado pelo Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (Cofip ABC), que ocorreu nesta quarta-feira (11/9), na Braskem, em Santo André.
Além do rodízio, a Cetesb apresentou outras práticas que visam melhorar a qualidade do ar na região onde o Polo Petroquímico está localizado, como monitoramento, com duas centrais instaladas próximas às indústrias, atendimento à população para registro de reclamações e definição de metas que visam reduzir cada vez mais a emissão de gases industriais na atmosfera.
Até 2025, a expectativa é diminuir os índices em 95% e um importante passo foi dado nesse sentido com a substituição de combustível usado no Polo, de óleo para gás natural. “Houve um ganho ambiental substancial com isso”, afirmou Mucciacito. Dados de reclamações vindas da população registradas pela Cetesb demonstram que, das 4.549 recebidas, 1.534 foram referentes a substâncias odoríficas.
Com relação à poluição veicular, o químico afirmou que é provável a implantação de rodízio na região, uma vez que a medida beneficiaria não somente o meio ambiente, como também o trânsito nas cidades. “Existem algumas formas de fazer isso [reduzir a poluição veicular], uma delas é o rodízio, mas existem outras formas, como fazer a inspeção veicular, para ter uma redução considerável de poluentes atmosféricos, mas tudo isso a gente está conversando ainda”, disse.
Além dos dados da Cetesb, o seminário trouxe números do Cofip nas áreas de saúde, meio ambiente, segurança e sociedade. De acordo com as informações apresentadas por Carlos Barbeiro, assessor técnico da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) e do Cofip ABC, houve melhora em todos os indicadores de 2018 em comparação com o ano anterior. Entre os destaques o levantamento mostrou que em 2018 houve redução de acidentes com afastamento, de 17 para 10 casos, reaproveitamento total de resíduos advindos de limpeza de tanques, aproximação entre o Polo e a vizinhança e aumento no reaproveitamento de água por meio do sistema Aquapolo, que trata e torna próprios para consumo industrial 9,7 milhões de metros cúbicos de água, o que equivale a cerca de 45.300 casas com quatro pessoas.
Para Carlos Barbeiro, conhecer os números é fundamental para que ações de resolução sejam criadas. “Os números nos ajudam a resolver os problemas e apontar possibilidades”, comentou. Os dados de 2019 serão divulgados somente no ano que vem.
Outra apresentação foi feita pela Abiquim, com informações referentes a 81 empresas, com total de 225 plantas em todo o País. Assim como no Polo de Capuava, foi registrada queda substancial nos acidentes, com 61% de redução naqueles que necessitaram de afastamento e 62% nos que não. A geração de resíduos registrou queda de 21% e, no que tange o contato com a comunidade, a Abiquim registrou 58% de reclamações procedentes, ou seja, que foram analisadas e constatadas como pertinentes. Dessas, a associação afirma ter solucionado 100% dos casos.
Além dos dados, houve apresentação sobre poluição atmosférica, melhorias e controles de conformidade e reflexão sobre uso do transporte rodoviário para produtos químicos e como a mudança por outros sistemas, como o marítimo, poderia contribuir para redução do uso de combustíveis fósseis – como o óleo diesel – e da emissão de dióxido de carbono. Para Luís Pazin, presidente do Cofip ABC, as discussões em pauta são primordiais para que o polo petroquímico possa se manter positivamente. “Para que a gente tenha a perenidade do Polo, precisamos evoluir sempre”, finaliza.
Consórcio prioriza transporte coletivo para reduzir emissões
Questionado sobre implantação de rodízio ou inspeção veicular na região, o Consórcio Intermunicipal informa, por meio de nota, que “iniciou as discussões sobre a possibilidade de implementar um rodízio parcial de veículos na região, em 1995, mesma época em que foi iniciado em São Paulo o período de testes do rodízio municipal, regulamentado dois anos depois”. Quanto ao ABC, houve a avaliação de que a medida traria impacto reduzido no tráfego.
Na década seguinte, mais precisamente em 2008, o assunto voltou a ser discutido no Consórcio. Desta vez, a avaliação foi de que um sistema regional não seria viável, em função das diferenças de demandas de veículos entre as cidades.
A nota aponta ainda que em 2009, quando o Governo do Estado apresentou projeto de lei para tornar obrigatória a inspeção veicular, o Consórcio criou o Grupo Temático Inspeção Veicular com o objetivo de discutir a possibilidade de implementar a iniciativa na região. “O projeto de lei ainda está tramitando na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Sendo aprovada a lei, o tema pode voltar a ser tema na entidade regional”, informa.
A entidade recorda que em 2012 a Assembleia de Prefeitos do Consórcio contratou estudo de opinião para avaliar a implantação do rodízio no ABC. A pesquisa ouviu 1.500 pessoas nas sete cidades e apontou que 46% dos entrevistados eram contra a restrição de circulação de veículos nos moldes da Capital, por placas, e 40,13% favoráveis ao rodízio. “O principal resultado da pesquisa, no entanto, foi que 86,33% dos entrevistados entenderam que o melhor investimento em mobilidade para região deve ser voltado para o transporte coletivo e não na locomoção individual”, esclarece.
A nota também aponta que em 2013 a entidade regional lançou o Plano Regional de Mobilidade para priorizar o transporte coletivo por meio de corredores exclusivos ou prioritários, além de obras viárias estruturantes para melhorar a fluidez e desafogar gargalos do transporte público.
Por fim, o Consórcio informa que “atualmente estão sendo desenvolvidos os projetos funcionais e básicos de engenharia para a requalificação de corredores preferenciais para transporte coletivo, necessários para viabilização das futuras obras previstas no plano regional, possibilitando uma rede integrada de transporte coletivo no ABC”. Para a entidade, a iniciativa pode reduzir o número de carros em circulação na região e, assim, diminuir o número de poluentes emitidos por esses veículos.
O Consórcio destaca também que o Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, composto pelos 39 municípios da Grande São Paulo, criou em 2017 duas câmaras temáticas para a área de transportes, tendo uma delas como principal objetivo a regulamentação dos critérios de circulação de cargas e o padrão de veículos em toda Região Metropolitana, o que também contribuiria para a redução da poluição na região. A entidade conta com dois representantes neste grupo.