Timidamente alguns empreendimentos residenciais já começam a sair do projeto e o setor da construção civil ensaia uma recuperação após quatro anos de crise. Essa suave recuperação é fruto de uma combinação de fatores, dentre os quais, a nova Lei do Distrato, a mudança da correção nos financiamentos da TR (Taxa Referencial) para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e indicativo de que o governo federal conseguirá, com a aprovação das reformas da Previdência e depois a Tributária, transmitir segurança aos empresários. O setor cresceu 2% no segundo trimestre do ano, em comparação com os primeiros três meses do ano quando registrou 1.9% de alta.
O crescimento ainda é pequeno, pois comparando o semestre com os primeiros seis meses do ano passado a variação é sensivelmente negativa, de 0,1%, mas já anima o setor e diminui a carranca dos empresários que já passam a investir. É o caso da construtora com sede na região, a MBigucci, que criou este ano o braço o Big Tec, que é especializado em lançamentos no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida. A construtora está lançando um empreendimento no bairro Cooperativa, em São Bernardo, que terá três torres e 348 unidades. Já pensando na melhora, a empresa está com quatro empreendimentos em fase de aprovação nas cidades de Santo André e São Bernardo. O diretor técnico, Milton Bigucci Júnior, diz que está a procura de terrenos para futuros empreendimentos, principalmente vizinhos ao lançamento no Cooperativa. “Já dei ordem para minha equipe que se aparecer terreno é para comprar”, explica.
Perguntado se já sente ventos mais fortes no setor Bigucci Júnior se diz confiante. “Já estava na hora, estamos muito animados, o anúncio na mudança de financiamento ajuda, mas não é só isso; está vindo uma onda que está acelerando de verdade e acho que não tem mais volta”, analisa o diretor da construtora.
A diretora do Sinduscon (Sindicato das Construtoras) do ABC, Rosana Carnevalli, destacou que a recuperação tímida é mais o reflexo de um clima de confiança maior, do que propriamente resultado das políticas recentes. “Essa confiança tem que voltar para que as pessoas voltem a comprar, porque adquirir um imóvel é um investimento de longo prazo. Tudo passa pela construção, se há crescimento da indústria, há lançamentos de imóveis comerciais, há investimento em infraestrutura, por isso sentimos esses sinais, percebo essa vontade do empresário em investir, mas não estamos tão eufóricos”, analisa.
Este “pé atrás” da empresária da construção se deve ainda ao período longo de retração da indústria da construção. “Tudo depende dos próximos passos do governo, de concluir a Reforma da Previdência e depois fazer a Reforma Tributária. Dependemos de uma evolução do PIB do país que eleva também o PIB da construção”, pondera Rosana.
O crescimento da construção, no entanto ainda não se refletiu nos níveis de emprego. O setor é um dos maiores empregadores pois admite trabalhadores de diversas frentes, de pedreiros a eletricistas, passando por gesseiros e chegando até a arquitetos, decoradores e engenheiros. “A evolução dos empregos ainda pode demorar um pouco porque dos lançamentos até a produção (início das obras) demora um pouco”, conclui Rosana Carnevalli.