Faltam recursos públicos, tando em crédito para as empresas, como para as universidades para preparar o mercado de trabalho para a Indústria 4.0. Esses foram os pontos mais destacados durante o encontro “O ABC na Indústria 4.0 – Os desafios da Inovação”, que realizado na subsede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em Diadema, que teve participação empresarial, acadêmica e de trabalhadores.
O organizador do ciclo de debates, que já realizou outros dois encontros, Wellington Damasceno, conta que o primeiro objetivo é trazer o trabalhador para a discussão de um tema que as empresas estão discutindo, mas o trabalhador ainda acha que isso ainda está muito longe ou que não fará parte da vida dele. “A ideia é tratar não só a indústria 4.0 na fábrica, mas o que vai impactar no trabalho e na vida das pessoas”. O segundo objetivo é acumular informações, para que o sindicato negocie com as empresas a implantação de novos processos. “Tem muitas empresas já estão implantando, mas sem conversar com o sindicato, que pode discutir a capacitação para manter o funcionário na mesma empresa”.
Damasceno disse que onde o sindicato teve intervenção, como na Scania e Mercedes-Benz, que já anunciaram linhas 4.0, não houve demissão de trabalhadores. “Onde não tivemos ação houve redução nos postos de trabalho. Os números são muito imprecisos, o Brasil tem uma mão de obra mais de base, que são os processos que serão automatizados primeiro, então sabemos que a indústria 4.0 vai atingir o país em cheio, por isso a importância deste debate. Vamos mostrar para o poder público também as propostas”.
A professora e coordenadora do Centro de Inovações da Universidade Federal do ABC, o InovaUFABC, Anapatrícia Morales Vilha, chamou a atenção para dois desafios; identificar se a região está aprisionada nos caminhos já trilhados, se é incapaz de ingressar na Indústria 4.0, e como como pensar em novas trajetórias para o ABC. Para ela a região pode investir em biotecnologia, nanotecnologia, saúde e em defesa. “Temos universidades na região que geram esse conhecimento então é possível pensar nestes setores. É preciso buscar as formas de alavancar e de fomentar a região, mas também é necessário termos uma liderança e articulação regional”, aponta.
O diretor da subsede do sindicato, Claudionor Vieira do Nascimento, apontou o pequeno investimento do governo nas universidades e no crédito para as pequenas empresas também seguirem o caminho da Indústria 4.0. “Não há o investimento que é preciso, o Brasil é o último da fila em investimentos em tecnologia e inovação levando em conta os Estados Unidos, Alemanha, Japão e China. Se pegarmos destes quatro países o que investe menos, o Brasil não chega a ter nem 10% disso. A palavra investimento parece que é uma coisa proibida. Hoje o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é o principal banco de fomento e as empresas tem uma enorme dificuldade de chegar até ele para buscar empréstimo e fazer investimento. As universidades estão sofrendo um ataque tremendo de corte de verbas. Não dá para pensar em um futuro melhor se não pensar em educação, em escolas técnicas e em universidades públicas federais”, lamenta.
O diretor de soluções robóticas da Yaskawa/Motoman, Marcio Garcia, avalia que o país já está se inserindo da Indústria 4.0, mas ainda de forma tímida e não com os processos integrados como o conceito prega. “O crescimento da automação é inevitável, mas também não é como dizem, ainda tem muita gente trabalhando manualmente, mesmo na Alemanha. É que quando se mostram imagens, são apenas as dos robôs trabalhando. Quanto à restreabilidade, onde todos os processos e partes de um produto seguem códigos de barra não é fechado em nenhum lugar do país”.
Anapatricia atenta para a redução de postos de trabalho que já acontece com os processos produtivos mais modernos, sobretudo nas grandes empresas e diz que até as universidades ainda precisam de uma estrutura melhor para acompanhar esse avanço. “Existe uma tendência de redução dos postos de trabalho que, por consequência, revela ou acentua a necessidade de uma maior qualificação. Mas as universidades, por enquanto, não estão preparadas para a Indústria 4.0, uma parte delas ainda está tentando entender o que é esse conceito”.