Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de desempregados no Estado de São Paulo é maior que a média nacional: 12,8% contra 12% no País. Dentre os empregados, 19,1% trabalham sem carteira assinada. A informalidade é a saída para a maioria daqueles que não conseguem recolocação nem mesmo em outra área. A situação atinge os que têm formação técnica, superior e até quem possui experiência.
A PNAD (Pesquisa Nacional Por Amostragem de Domicílios), do IBGE, mostra ainda que no Brasil 45% dos desocupados estão à procura de emprego há mais de um mês e até um ano. A faixa tem aumentado desde 2015, quando eram 4,5 milhões de pessoas para 5,8 milhões no segundo trimestre deste ano.
Para a professora de economia da UFABC (Universidade Federal do ABC), Ana Claudia Polato e Fava, a informalidade é uma situação que tende a crescer no País. “Há casos em que a pessoa trabalha informalmente não porque não consegue trabalho, mas porque consegue até uma renda um pouco melhor, mas não se dá conta que está abrindo mão de uma renda no futuro, com a aposentadoria. Há também situações em que as pessoas ganham muito pouco. O emprego com a carteira assinada, mesmo com um salário menor, deve ser considerado pelos benefícios da rede de seguridade”, analisa.
Erra quem pensa que somente quem não tem qualificação profissional esteja sem emprego. Janaína de Fátima da Silva, 38 anos, é técnica em logística há quatro anos, mas nunca conseguiu entrar na área e nem fora dela. Atualmente, Janaína garante o sustento como diarista e sem vínculo empregatício algum. “Desde que me formei não consigo trabalho na área porque em todos os lugares dizem que não contratam mulheres para esta função porque exige força física. Na minha área não necessariamente preciso carregar peso, posso trabalhar em administração de estoques, na área administrativa, por exemplo”, diz. Enquanto isso, a técnica limpa casas e diz que ganha até mais na informalidade. “O salário de técnico em logística é de R$ 1,5 mil a R$ 1,8 mil, como diarista eu ganho até R$ 2,5 mil, se trabalhar todo dia”, conta. O problema, diz, é a regularidade e a falta de benefícios. “Tem dia que não tenho faxina, na última semana fiquei dois dias em casa, então no fim deste mês minha renda será menor”, lamenta.
Ex-metalúrgico
O técnico em mecatrônica e operador de CNC, Orlando Picolli Júnior, 42 anos, foi demitido depois de 23 anos de atuação na Mercedes Benz, em São Bernardo. Isso foi há quatro anos. Depois de distribuir muitos currículos e não conseguir nada, desistiu e hoje faz trabalhos, informalmente, graças a outras habilidades que adquiriu. Pintura, soldagem, ajudante de pedreiro, montagem e desmontagem de móveis e fabricação de móveis de palets são algumas das atividades. “Cansei de mandar currículos, confesso que desisti de procurar, não tenho mais vontade de ir atrás”, comenta.
Picolli Júnior conta que a situação financeira da família, com esposa e dois filhos, mudou muito. “Tivemos de reaprender a viver. Minha esposa sempre trabalhou, mas a minha renda era a principal. Hoje o problema é que a renda caiu mais da metade, principalmente porque não é sempre que aparece trabalho”, relata o trabalhador que diz não ter mais esperança de voltar a ter um emprego formal. “Para voltar eu precisaria fazer uns cursos de atualização, mas eles não são baratos”, lamenta.
A professora da UFABC avalia que muitos que concluíram cursos superiores na época de crise acabam por não encontrar colocação logo e migram para outra área ou a informalidade. Distanciam-se da área de formação e não conseguem mais voltar. Afirma que as universidades públicas e privadas expandiram os cursos com novas carreiras e esse acréscimo não foi absorvido pelo mercado. “É um problema da situação econômica, mas acaba como efeito permanente”, diz a economista, que sugere a formação contínua e até a mudança de área. Ana Cláudia aponta o Relatório de Desenvolvimento Econômico do Banco Mundial sobre a preparação dos jovens para várias carreiras, com as rápidas mudanças tecnológicas e que exigem dos profissionais várias habilidades.