O setor de serviços, com destaque para as áreas médica, veterinária e de ensino, é o maior empregador de São Bernardo, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, no primeiro semestre deste ano. No contraponto, a indústria, sobretudo a de material elétrico e de transporte, foi a que mais demitiu. O perfil do emprego tem mudado e o mercado está em busca de quem conhece novas tecnologias, avaliam especialistas.
No comparativo do primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2018, a indústria, que fechou o ano passado com saldo de 1.256 contratações, encerrou os primeiros seis meses de 2019 com saldo negativo de 499 vagas, demitiu mais do que contratou. Saldo negativo também na construção civil, setor considerado um termômetro da economia, que perdeu 15 vagas no ano passado para um saldo negativo de 89 postos de trabalho em 2019.
Mesmo no setor de serviços, o segmento de comércio e administração de imóveis, que ia muito bem na primeira metade de 2018 com saldo positivo de 781 vagas, ficou entre os segmentos que mais desempregaram este ano, com saldo negativo de 309 posições.
O comércio, que já vinha de resultado negativo no ano passado, repetiu o desempenho no saldo de vagas: -372 em 2018 e -431 este ano. Mas o setor pode ganhar novos contornos a partir deste semestre. O Extra Anchieta está contratando 60 operadores de caixa. O anúncio do processo de seleção atraiu mais de 2 mil pessoas este mês. Outra empresa do setor é a Hirota Food, que investe US$ 10 milhões em um centro de distribuição e uma fábrica de alimentos no bairro Demarchi, e que vai gerar 150 empregos. Essa rede já tem um supermercado na cidade, onde trabalham 80 pessoas. “Viemos para a cidade por causa da logística e da força da região”, apontou o gerente geral da rede Hélio Freddi.
Segundo Vanessa Aguiar, gerente de recrutamento da Robert Hall, empresa de recrutamento com unidade na cidade, as áreas que voltaram a contratar são as do setor químico, de agronegócios, vendas, de tecnologia da informação, financeira, contábil e fiscal. “Os novos negócios são os que têm gerado oportunidades e as empresas têm aumentado os quadros e substituído gerentes comerciais”, analisa. A especialista considera também que, apesar do aumento do número de candidatos, a massa salarial se manteve.
Para o economista e coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Jefferson José da Conceição, os números refletem o ajuste das empresas às novas tecnologias e a processos mais enxutos de produção. “O peso da indústria ainda é grande em São Bernardo, mas mesmo que ela se modernize, não vai mais empregar como antes. As novas tecnologias e a informatização reduziram a quantidade de pessoas nas indústrias.
A saída é a cidade e o ABC investirem em serviços avançados de maior valor adicionado, como em projetos, manutenção, engenharia, contabilidade e marketing, mas tudo isso conectado a essa indústria. Aí a região pode se tornar um polo de serviços avançado”, afirma.
Além dos dados do semestre o Observatório da USCS tem também dados que mostram o cenário do emprego desde 1989. A indústria, naquele ano, tinha 150.326 pessoas, 28 anos depois, em 2017, as fábricas empregavam menos da metade, 73.259. Teve uma recuperação em 2018, ao passar a 74.515 no primeiro semestre de 2018, até voltar a demitir este ano. Na contramão, o setor de serviços, que empregava 41.501 pessoas em 1989, quadruplicou a mão de obra com 120.948 em 2014 e baixou a quantidade de pessoas empregadas três anos depois com 107.725.
O comércio também revela uma curva positiva ao passar de 17.239 pessoas ocupadas em 1989 para 45.549 em 2017. Esses dados revelam uma mudança de perfil do emprego. “Não sou pessimista, essa mudança ia acontecer mais cedo ou mais tarde, mas os municípios precisam estar preparados, ter diagnósticos precisos para saber onde investir, principalmente na formação de mão de obra, aí entram as escolas técnicas e universidades, mas esse investimento tem de ser mais agressivo”, completa Jefferson da Conceição.
Domínio de língua estrangeira é diferencial do candidato
Para se encaixar no perfil das vagas que surgem no mercado no setor de serviços ou nos novos segmentos que nascem amparados em novas tecnologias, como as startups, o candidato deve estar atualizado com as ferramentas tecnológicas e também ter conhecimento de ao menos uma língua estrangeira.
“De forma geral, o candidato tem de se preparar, conhecer bem as habilidades exigidas pelo cargo e também estar pronto para a entrevista. Primeiro procurar saber sobre o mercado no qual a empresa atua e pensar em responder a pergunta sempre recorrente nas entrevistas que é: ‘por que o perfil é interessante para a vaga?’ É importante sempre reforçar resultados positivos que obteve em outros empregos, citando cases”, orienta Vanessa Aguiar, gerente de recrutamento da Robert Hall, empresa especializada em seleção de pessoal.
Com a informatização e a robotização na indústria, quem busca vaga no segmento logicamente deve estar atualizado quanto aos softwares mais usados nesta área, mas o conhecimento de línguas é diferencial. “Não apenas o inglês, pois as empresas têm destacado aqueles que têm conhecimento em uma terceira língua, como o espanhol. A região vive uma quebra de paradigma e os profissionais têm tentado se adaptar às novas tecnologias e exigências do mercado”, completa a especialista em recrutamento.