Em tempos de crescimento do número de endividados, qualquer estímulo financeiro é encarado como possibilidade de dar aquele fôlego no orçamento familiar, mas é nessa oferta de crédito que mora o perigo. O alerta é da Fundação Procon, que tem orientado os consumidores a respeito dos serviços oferecidos por bancos e financeiras.
Os assuntos financeiros lideraram o ranking nacional do Sindec (Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor), com 25,09% do total de reclamações (493.600) em julho, seguidos por Telecomunicações (23,05%) e Serviços Privados (20,15%). As principais armadilhas se escondem nos empréstimos consignados (com desconto em folha de pagamento ou, nos caso de aposentados e pensionistas, abatidos do próprio benefício), além de títulos de capitalização e cartões de crédito.
O que tem gerado mais queixas são os abusos do consignado. “Valores aparecem na conta de aposentados sem autorização. Alguns devolvem, mas muita gente precisa e usa o dinheiro. Só depois nos procuram para falar que não pediram o empréstimo e reclamar das altas taxas de juro”, comenta Wanderley Smelan, coordenador do Procon de Diadema, durante entrevista ao canal RDtv.
Smelan define os bancos como “lojas para vender dinheiro” e diz que é preciso atenção redobrada dos consumidores. “O banco tem o melhor produto da praça, é uma loja que não existe para emprestar, mas para tomar dinheiro. É bom lembrar que os bancários são comissionados pelos serviços que prestam e quanto mais oferecerem aos clientes mais rendimentos terão”, afirma.
Vendas casadas – A grande preocupação dos órgãos de defesa do consumidor são as chamadas vendas casadas. “Você entra na agência para pedir um empréstimo e te oferecem um seguro ou um título de capitalização, cuja premiação é irrisória e os bancos ficam com a maior parte do dinheiro”, alerta. Segundo Smelan, o planejamento financeiro é o principal aliado das famílias. “A dica para quem tem dinheiro é aplicar em renda fixa ou no mercado acionário, opções que oferecem chances de ganho. O resto é dar dinheiro a banqueiro”, reforça.
No caso dos consignados, fraudes têm sido comuns e todo cuidado é pouco. Empresas procuram clientes que já contraíram o empréstimo ao acenar com a possibilidade de juros menores e redução na quantidade de parcelas, mas no final das contas trata-se de golpe. “Alguém aparece com um contrato na casa da pessoa e ela assina, só que não elimina a dívida. Pelo contrário, contrai outra e não sabe nem com quem”, comenta.
Com papel de mediador das relações entre empresas e consumidores, o Procon tenta evitar que as reclamações terminem na Justiça. De acordo com Smelan, o órgão tem obtido êxito na maioria dos desfechos. No entanto, seria importante que houvesse legislação rigorosa para punir os prestadores de serviço.
“O Procon não tem efeito condenatório, alguns nem aparecem nas audiências. A punição seria uma forma de moralizar o papel do Procon e respeitar o consumidor, que não é respeitado no Brasil. Bancos e empresas sabem que, na maioria dos casos, as vítimas não procuram seus direitos por acharem que não vai dar em nada ir à Justiça. Se todos tivessem esse hábito, as empresas se estruturariam para atender melhor”, acredita.
Endividados – A proporção de famílias endividadas na capital paulista aumentou para 51,2% em julho, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). No mesmo período de 2018, a fatia era de 50,6%. Em números absolutos, são praticamente dois milhões de famílias com algum tipo de dívida e o cartão de crédito continua como a principal delas, com 73,2%, alta de 3,1 pontos percentuais em relação a junho.