Série ‘Pátria’ põe o dedo na ferida feita pelo ETA

Quando Elena Irureta contou à família que seria uma das atrizes de “Pátria”, série sobre o grupo separatista basco ETA (Pátria Basca e Liberdade), seu cunhado ficou um pouco alarmado com o seu novo papel. “Entre amigos e familiares, ele presenciou a morte de quatro pessoas. Um deles, inclusive, levou um tiro bem na sua frente”, conta a atriz em uma ensolarada manhã de verão em Madri. A artista de 63 anos, conhecida por seus muitos papéis na TV, é uma das protagonistas da primeira e mais aguardada produção da HBO espanhola, que chegará às telinhas em 2020.

Baseada no fenômeno editorial homônimo do escritor Fernando Aramburu, Pátria se desenvolve em três décadas em Euskadi (País Basco). Seus protagonistas – duas famílias divididas por causa do terrorismo – mostram como as pessoas comuns vivem no contexto de um conflito que, mesmo sendo local, tem elementos semelhantes aos de outros confrontos pelo mundo. A vida de Bittori (Elena Irureta) e sua família muda completamente no dia em que o ETA mata seu marido, Txato (José Ramón Soroiz), na porta de sua casa. As relações com a família da sua amiga Miren (Ane Gabarain), cujo filho Joxe Mari (Jon Olivares) milita no grupo, são cortadas.

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O ETA, organização terrorista que lutava pela independência da região basca, no norte da Espanha, esteve em atividade entre 1959 e 2011. Somente em 2018, o grupo anunciou sua dissolução. Os atentados do ETA começaram no regime ditatorial de Francisco Franco e ganharam ainda mais força nos anos de democracia. O ataque mais sanguinário aconteceu em 19 de junho de 1987, na gestão do presidente socialista Felipe González.

Três terroristas explodiram um carro que destruiu o primeiro andar do estacionamento de um centro comercial de Barcelona e deixou 21 mortos e 45 feridos. Segundo dados oficiais do Ministério do Interior da Espanha, em mais de 50 anos de existência, o ETA foi responsável por 853 mortes. A maior parte ocorreu entre 1979 e 1980, época em que a atriz Elena Irureta vivia no povoado de Zumaya, na cidade de Guipuzcoa, e estudava teatro em San Sebastián.

“A polícia me parava todos o dias. Sempre chegava atrasada às aulas”, conta Irureta. “Em Zumaya houve de tudo: de mortes por atentados terroristas a jovens torturados ou presos pelas forças de segurança do governo.”

A adaptação televisiva do romance de Aramburu tem oito episódios, todos escritos e produzidos por Aitor Gabilondo. Com direção de Félix Viscarret e Óscar Pedraza, Pátria começou a ser rodada na Espanha no início do ano e, ao contrário do que muitos imaginam, os trâmites para adquirir os direitos da trama foram obtidos com facilidade. Gabilondo foi quem negociou com Aramburu. “Ele me disse que a série deveria se chamar Mátria e não Pátria, já que a história era quase um western de senhoras”, brinca.

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