Delegacias lotadas, poucos policiais para atendimento e demora na elaboração de boletim de ocorrência têm sido problemas bastante frequentes nos serviços da Polícia Civil em todo o Estado, mas são apenas a ponta de um iceberg na visão do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), instituição que acaba de divulgar levantamento em que aponta falta de 14.235 policiais nas delegacias paulistas, um déficit de 34%. No ABC, a defasagem é de 34,08%, com 664 cargos vagos.
Segundo a presidente do Sindpesp, Raquel Kobashi Gallinati, a falta de policiais civis não prejudica somente o atendimento ao público, mas a principal função da Polícia Civil, que é investigar. “Quando o Estado não preenche os cargos para o combate à criminalidade com eficiência, isso favorece ao crime organizado. As delegacias superlotadas são apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior”, aponta Raquel, que tem percorrido todo o Estado para conhecer pessoalmente as dificuldades da categoria.
A delegada já esteve na região, onde aponta que os problemas não são diferentes. “Estamos cumprindo um cronograma de ações, com realização de diagnóstico. O Demacro (Departamento de Polícia da Macro São Paulo), que abrange todas as cidades da Grande São Paulo fora a Capital, não é diferente do restante. No Interior temos delegacias com déficit maior”, diz. Municípios, como Piracicaba, Sorocaba e Campinas, têm deficiência maior de policiais civis: 45%, 44% e 40%, respectivamente.
Raquel Kobashi Gallinati considera que a sobrecarga dos policiais é fator que agrava ainda mais o quadro, pois é motivo de afastamentos por problemas de saúde, principalmente psicológicos, e aposentadorias precoces. “Claro que o policial no exercício de funções de 4 ou 5 pessoas, em afronta à legislação, sofre muito mais, fica com os nervos à flor da pele, porque a função já é de risco e, sobrecarregada, fica pior”, afirma.
Os cargos criados por lei no ABC são 1.948, entre delegados, escrivães, investigadores, agentes policiais, agente de telecomunicações, papiloscopista e auxiliar de papiloscopista. Porém, a região tem apenas 804 dos cargos ocupados, ou seja, 664 estão vagos. A cidade com maior déficit é Diadema com 35,37%, seguida pela Seccional de Santo André, que responde também por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, com déficit de 35,16%. Depois vem São Bernardo, que também abrange São Caetano, com 32,33%. A base dos dados é de dezembro último.
O Sindpesp tomou duas providências, entrou com ação civil pública para obrigar o governo do Estado a ocupar os cargos criados em lei e fez uma reclamação à OIT (Organização Internacional do Trabalho), com relato da situação de trabalho dos policiais civis. “Ainda estamos aguardando o trâmite destas duas ações”, diz a delegada.
Governo do Estado
Em nota, o governo do Estado informa que tem concurso em andamento para a contratação de 2.750 policiais. “A atual gestão investe na valorização e ampliação do efetivo policial em todo o Estado. Estão em andamento concursos para contratação de 2.750 policiais civis. Na quarta-feira (24), foram convocados 1,1 mil aprovados nos concursos para análise de documentos e realização de perícias de aptidão e mental. Além destas, há ainda mais 1.650 vagas em andamento de concurso. Também foram nomeados, em março, 449 novos policiais técnico-científicos, que serão distribuídos em todo o Estado após curso de formação. Já foi autorizada também a abertura de novo certame para a contratação de 2.750 policiais civis, a partir do próximo ano”, informa a Secretaria de Segurança Pública.