*Por Fábio Vital
Nesses tempos de polarização exacerbada, economia estagnada, mudanças climáticas, acordos e desacordos mundiais, nos tornamos menos tolerantes e induzidos a tomar posições extremas. Um falso dilema surge, gerando discussões acaloradas entre ambientalistas e desenvolvimentistas. De um lado, a defesa do meio ambiente impediria o desenvolvimento econômico. De outro, projetos necessários para o crescimento do País trariam consequências para a natureza. Colocar esses dois pilares da vida civilizada como causas opostas e excludentes é um erro que pode custar muito caro para a sociedade. Temos de buscar o futuro sem os vícios e práticas do passado.
A radicalização desse falso antagonismo aponta para situações em que o Brasil pode perder oportunidades. No outro polo estão aqueles que desprezam por completo a causa ambiental, enxergam a preservação como mero obstáculo. Nada mais equivocado.
Nesse cenário, vemos importantes leis de proteção ambiental sendo enfraquecidas. Do mesmo modo, novos projetos sustentáveis e que apresentam compensações não têm a devida atenção e são desprezados.
É preciso enfrentar essa polarização e elevar o patamar de discussão, pois essa falsa dicotomia, por meio de posições extremadas, é inimiga de soluções e de respostas necessárias. O nosso ABC é um bom exemplo, onde metade se encontra em área de proteção aos mananciais e outra metade sofre uma rápida reestruturação urbana.
A sustentabilidade urbana requer que objetivos econômicos, sociais e ambientais sejam completamente integrados na construção das políticas públicas. Deve ser coordenada de forma democrática e participativa para assegurar uma base para planejamento estratégico, tendo como eixos ser ambientalmente sustentável, ser social e politicamente inclusiva, ser produtiva e competitiva economicamente, prover empregos, ter identidade cultural e introduzir maior transparência e responsabilidade nos processos de tomada de decisão.
Temos visto por décadas os mananciais metropolitanos e caixa d’água do ABC serem ocupados e degradados sem que o planejamento e o controle público pudessem evitar. Exemplo prático, que ilustra a possibilidade de desenvolvimento para a região e preservação ambiental, é o projeto de instalação de um centro logístico predominantemente ferroviário no município de Santo André, no caminho por onde sobem e descem as cargas do Porto de Santos.
Atualmente somente 15% das cargas no País são transportadas por trilhos, enquanto a maioria chega aos seus destinos por meio de poluentes caminhões nas já saturadas rodovias. O centro atende a uma demanda nacional pela ampliação e valorização do transporte ferroviário de cargas, modal mais seguro, econômico e menos poluente do que os caminhões.
O projeto, segundo o empreendedor, foi desenhado a partir das características ambientais da região e sua primeira etapa prevê a criação de reservas florestais, com monitoramento permanente da fauna e flora e proteção de todas as nascentes.
Em etapa posterior, será construída a estrutura para implantação do centro, que ocupará menos de 7% da área total. Para cada hectare utilizado, quatro terão a garantia de preservação, evitando a degradação da mata. Esse exemplo merece um novo patamar de debates e considerações.
Desenvolvimento e meio ambiente pedem um ponto de equilíbrio para que avancem juntos em projetos sustentáveis. Nós ambientalistas e defensores do desenvolvimento devemos trilhar o caminho da sustentabilidade, para preservar nossas matas, florestas e rios, de que tanto precisamos, além de resgatar nossa imensa massa de desempregados.
Fábio Vital é ambientalista, arquiteto e urbanista e foi vice-presidente do Subcomitê das Bacias Billings/Tamanduateí, do Conselho de Meio Ambiente de Santo André e do Conselho Municipal de Políticas Urbanas de Santo André.