Nova decisão da Justiça da Suíça impede Caster Semenya de ir ao Mundial de Doha

Caster Semenya, bicampeã olímpica e campeã do mundo da prova dos 800 metros, não vai poder defender o seu título no Mundial de Doha, em setembro, após uma nova decisão tomada pela Justiça da Suíça durante o polêmico caso envolvendo a atleta.

No início de junho, a sul-africana de 28 anos havia conseguido uma vitória nos tribunais para poder voltar a competir entre as mulheres. Na ocasião, o Tribunal Federal da Suíça, a Suprema Corte do país, deu ganho de causa temporário à atleta em seu recurso contra o entendimento da Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês), que manteve a decisão da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) que impede as atletas classificadas como hiperandrogênicas de participarem de provas de média distância, 400 a 1.500 metros, na modalidade.

Newsletter RD

A entidade passou a exigir que atletas com essa característica se submetessem obrigatoriamente a tratamentos de redução de testosterona, o que a atleta negou-se a fazer. Na última segunda-feira, porém, o Tribunal Federal da Suíça, a Suprema Corte do país, que havia concedido anteriormente ação cautelar à atleta para que a competidora pudesse ir ao Mundial, voltou atrás em sua decisão anterior. O fato foi revelado nesta terça, por meio de um comunicado divulgado pelos advogados da competidora.

Semenya classificou a nova sentença da Justiça da Suíça como “discriminatória”. Surpreendida com a notícia da revogação da decisão anterior, a atleta se pronunciou, por intermédio de sua advogada, Dorothee Schramm, nesta terça-feira.

“Estou muito decepcionada por não poder defender meu título que tanto fiz por merecer, mas isso não me fará desistir da minha luta pelos direitos humanos de todas as atletas envolvidas”, afirmou a nota. A advogada da atleta mostrou indignação com a decisão de “um único juiz do Supremo Tribunal Federal da Suíça”, que revogou decisões anteriores.

A defensora, porém, acrescentou que o juiz tomou uma “decisão processual” que não teria, sustenta ela, nenhum impacto sobre o recurso obtido anteriormente pela atleta sul-africana. “Continuaremos a defender a apelação de Caster e a lutar pelos direitos humanos fundamentais. Uma carreira é sempre decidida na linha de chegada”, declarou a advogada.

Há um limite estabelecido de 5 nanomols de testosterona por litro de sangue em provas de média distância. Semenya, porém, por uma condição endócrina chamada hiperandrogenismo, produz naturalmente o hormônio em excesso. De acordo com as novas regras, que visam evitar possíveis vantagens para as atletas com essa característica biológica, ela deveria estar tomando medicamentos para reduzir os seus níveis de testosterona se quisesse competir entre as mulheres em provas de 400 a 1.500 metros.

Para a IAAF, mulheres como Caster Semenya, que teriam atributos masculinos, são consideradas “homens biológicos”, posição que tem provocado severas críticas por parte da defesa da campeã olímpica em Londres-2012 e Rio-2016.

Em 3 de junho, o Tribunal Federal da Suíça havia suspendido temporariamente as novas regras da IAAF, que obrigam que atletas hiperandrogênicas, ou com excesso de testosterona no organismo, tomem medicação para reduzir os níveis do hormônio.

Antes, em maio, a CAS apontou a necessidade de criar um grupo de trabalho composto por uma junta médica do Comitê Olímpico Internacional (COI), um representante da IAAF e especialistas da ciência e da ética, além de representantes dos atletas e das federações internacionais.

A atleta de 28 anos, três vezes campeã do mundo (2009, 2011 e 2017), era a grande favorita para vencer a prova dos 800m no Mundial de Atletismo de Doha, a maior competição na reta final do ciclo olímpico, que ocorre de 27 de setembro a 6 de outubro. Semenya já possui o melhor tempo do ano na prova: 1min54s98, obtido em competição disputada justamente no Catar.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes