Documentário sobre Babenco resgata o autor que filmou toda a dor do humano

Desde a morte de Hector Babenco, e depois, por meio de sucessivas entrevistas, até quando colhia seu sucesso como Maggie the Cat no teatro, com a montagem de Gata em Teto de Zinco Quente, o belo texto de Tennessee Williams que originou o filme clássico de Richard Brooks com Elizabeth Taylor e Paul Newman, de 1958, Bárbara Paz falava sempre do seu ‘work in progress’, o documentário sobre o companheiro de vida, e arte, com quem fez o último filme dele, Meu Amigo Hindu.

No ano passado, a Mostra homenageou Babenco exibindo a versão restaurada de Pixote, a Lei do Mais Fraco. Como complemento, apresentou uma palhinha do documentário de Bárbara, o curta Conversa com Ele. Basicamente, uma entrevista com Drauzio Varella, na qual o médico, escritor e apresentador dá um testemunho emocionado de sua ligação com o amigo ‘Hector’.

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Foram anos como médico, amigo, interlocutor. Dr. Drauzio chega a dizer que Hector o enganou muitas vezes. Estava sempre morrendo, mas possuía uma energia que o fazia reviver. Amava a vida, e o cinema. Tinha histórias para contar, elas o energizavam. Contou-as em filmes que lhe deram tudo – prêmios, reconhecimento. Pode-se preferir as obras do começo – O Rei da Noite, Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, Pixote, O Beijo da Mulher Aranha. A cena da Pietà, quando Marília Pêra acolhe Pixote nos braços, tornou-se clássica e o sucesso do filme, pelo qual Marília foi a melhor atriz do ano (1982) para os críticos de Nova York, foi decisivo para que Babenco virasse um diretor internacional.

Mesmo filmes que talvez não sejam tão grandes possuem fragmentos admiráveis. Ironweed, com aquela Meryl Streep bêbada, Brincando nos Campos do Senhor, Carandiru. A travesti de Rodrigo Santoro, o cão lobo que avança pelo corredor ensanguentado, representando a insanidade das 111 mortes na chacina do presídio.

Babenco possuía uma direção de cena forte e foi, no geral, um grande diretor de atores. Existem histórias de que William Hurt e ele brigaram feito cão e gato no set de Mulher-Aranha, mas o resultado todo mundo sabe. Oscar, Bafta, melhor ator em Cannes. Hurt faturou os principais prêmios de 1985/86.

O documentário de Bárbara, selecionado por Venice Classics, ajudará a retomar a discussão sobre o grande artista que Babenco foi. Foi, não – é. A obra segue viva. Basta lembrar de Paulo José na noite paulistana, ou de Lilica, a menina travesti de Jorge Julião em Pixote.

Babenco, argentino que se fez brasileiro por amor ao País, era insuperável naquilo que o crítico norte-americano Roger Ebert, nos seus tempos de Chicago Sun Times, definiu como “um olhar áspero para a vida que nenhum ser humano deveria ser obrigado a levar”.

Concorrentes

La Verdad (Hirokazu Kore-eda) The Perfect Candidate
(Haifaa Al-Mansour)
About Endlessness (Roy Andersson)
Wasp Network (Olivier Assayas)
Marriage Story (Noah Baumbach)
Guest of Honour (Atom Egoyan)
Ad Astra (James Gray)
A Herdade (Tiago Guedes)
Gloria Mundi (Robert Guédiguian) Waiting for the Barbarians
(Ciro Guerra)
Ema (Pablo Larraín)
Saturday Fiction (Ye Lou)
Martin Eden (Pietro Marcello)
La Mafia Non è Più Quella di una Volta (Franco Maresco)
The Painted Bird (Vaclav Marhoul)
The Mayor of Rione Sanità
(Mario Martone)
Babyteeth (Shannon Murphy)
Joker (Todd Phillips)
Jaccuse (Roman Polanski)
The Laundromat
(Steven Soderbergh)
Nº 7 Cherry Lane (Yonfan)

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