De falta de bandejão até viagens técnicas barradas. Os efeitos do bloqueio de verbas nas universidades federais, anunciado pelo Ministério da Educação (MEC), vêm sendo sentidos por aqueles que estão na ponta: os alunos. Em meio aos cortes, as instituições têm anunciado medidas de economia, enquanto que os estudantes, para contornar os problemas, apelam para marmitas, caronas, vaquinhas e até empréstimos.
Em abril, o MEC anunciou o bloqueio de verbas discricionárias das universidades. Esses recursos são usados, por exemplo, para o pagamento de terceirizados, contas de água e luz e obras. Universidades relatam dificuldades para honrar os contratos de funcionários nas áreas de limpeza e segurança – e algumas preveem até a suspensão das atividades. Bolsas de intercâmbio, iniciação científica e estágio também estão ameaçadas.
Segundo especialistas, a falta de apoio a estudantes – principalmente em um contexto de inclusão de alunos mais pobres nas universidades – tem impacto no engajamento dos universitários nos estudos, reduz possibilidades de dedicação a atividades complementares e contribui para a evasão.
UFABC
Por causa do bloqueio de verbas, a Universidade Federal do ABC (UFABC) prevê a impossibilidade de manutenção e reformas de prédios e equipamentos. A construção de novos blocos em Santo André, na Grande São Paulo, segue comprometida com o bloqueio de recursos, segundo a universidade.
Em maio, mudança na contratação de uma empresa de ônibus levou à redução no transporte do câmpus a terminais de transporte público. Também tornou mais difícil atender a todos que precisavam se deslocar entre os câmpus. “(O bloqueio) faz com que a UFABC não consiga ampliar a capacidade de transporte, num cenário de expansão do número de alunos”, informou a universidade.
O resultado é que alunos precisam enfrentar um caminho perigoso e já organizam esquemas de caronas. “Quem chega pelo terminal (Santo André Leste) tem de passar por baixo do viaduto a pé”, diz Andressa Silva, de 22 anos, aluna de Ciência e Tecnologia na UFABC. “Decidi trancar minha matrícula para tirar carta de motorista. Me vi ameaçada de estar sujeita a assaltos”, diz ela, que escuta relatos de violência ao menos duas vezes por semana no trajeto.
“O transporte já era muito precário, os estudantes já sofriam muito”, diz Marcos Carvalho dos Santos, de 19 anos, aluno do 2º ano de Economia. Por causa da mudança, ele paga R$ 35 mensais a um colega por três caronas por semana, em média. Nos outros dias, ele vai até o terminal Sacomã e, de lá, usa corridas de Uber que custam entre R$ 21 e R$ 28 – ou cerca de R$ 7 se conseguir outros colegas para dividir a corrida.
Na UFABC, os bloqueios deverão “comprometer fortemente” o funcionamento em 2020, segundo a reitoria. A universidade teve 30% dos valores bloqueados (R$ 15,4 milhões para custeio e R$ 6,9 milhões para investimento). “A UFABC deve manter as atividades até o final do ano, com o pagamento das despesas previstas e o cumprimento dos contratos vigentes, mas com limitações severas à qualidade desses serviços.”