Com a chegada das férias de julho, muitos pais e mães ficam aflitos em como ocupar o tempo dos filhos. Muitas vezes, o período de descanso e brincadeiras é preenchido pelo uso de celulares, games e outros recursos eletrônicos, mesmo contra a recomendação dos especialistas, que indicam brincadeiras em grupo e momentos em família para fortalecer laços e auxiliar no desenvolvimento adequado e saudável das crianças.
Na casa da lojista Claudia Ferreira Lima, em São Bernardo, a luta para manter Helena, de 8 anos, e Luis, de 6, focados em outras atividades que não dependam dos eletrônicos é constante. A mãe, que não tem férias junto com os filhos, afirma que recorre a passeios ao livre, em parques e praças, e materiais, como livros de pintar e jogos, para manter os pequenos na ativa enquanto realiza as atividades diárias. Apesar dos esforços, não é nada fácil manter a rotina corrida, dividida entre o trabalho, filhos e casa. “É bastante complicado e tem que ter controle emocional […] o pai ajuda, mas 80% é com a mãe mesmo”, afirma.
Para se organizar, Claudia leva as crianças para o trabalho na parte da manhã e, enquanto trabalha, pensa em atividades para o período da tarde. Segundo a mãe, as crianças aproveitam o tempo todo, mesmo quando estão no trabalho. “Para eles é divertido porque brincam de ajudar os vendedores. Enquanto é prazeroso eu acho bacana”, afirma. O celular só entra nos momentos em que as demais alternativas foram esgotadas e, mesmo assim, com tempo limitado em 30 minutos, o que não agrada as crianças. “A Helena é mais disciplinada, não insiste tanto. Agora o Luis dá mais trabalho para controlar”, diz.
Para a professora de inglês Tatyana Sousa, de Santo André, o maior desafio nas férias é encontrar atividades acessíveis financeiramente, práticas e divertidas para Vitor, de 8 anos. Apesar de tirar férias com o filho, outras questões, como tarefas de casa, a impedem de dedicar o dia integralmente ao lazer. De manhã Tatyana faz as tarefas, enquanto Vitor brinca, e à tarde tentam ir a parques, cinema ou cozinhar juntos. Já o videogame tem tempo estipulado e a ideia é investir em brincadeiras, soltar pipa com a família e atividades que não dependam de telas. “O desafio é aproveitar os dias da melhor maneira possível para ter histórias para contar”, conta a mãe.
Quem também busca alternativas para que as férias de Lucas, de 11 anos, sejam longe dos eletrônicos é a trainner de líderes Kelma Ramos, de Santo André. “Ele está em uma fase mais difícil, pré-adolescência, então tento manter uma rotina mais livre de horários, mas sempre de olho no tempo que ele fica exposto aos jogos e à internet”, afirma. Para isso, a mãe investe em recursos como dias de jogos em família, cozinhar juntos, e passeios no parque, além de deixar Lucas escolher o cardápio das férias, composto por variadas guloseimas. “Sinto que esses momentos nos aproximam mais […] sinto nos meus filhos que o simples momento de ficarmos juntos, conversar e rir de tudo tem mais valor do que qualquer dinheiro possa comprar”, afirma.
Especialistas fazem recomendações
O pediatra Thiago Gara Caetano, chefe da pediatria da unidade São Caetano do Hospital São Luiz, recomenda dosar as atividades das férias para que os pequenos possam descansar da rotina. O cuidado com as telas também deve ser redobrado nesse período, já que muitos pais optam pelos dispositivos eletrônicos para distrair as crianças. A soma de excesso de atividades e longas horas de exposição a telas têm resultado em crianças estressadas, ansiosas e imediatistas, o que acarreta consequências físicas e psicológicas. A recomendação do médico é que os pais optem por estimular atividades ao ar livre, que auxiliam no desenvolvimento motor e contribuem para acalmar a criança. “Tempo de tela tem de ser controlado: duas horas ao dia, no máximo, com intervalos”, recomenda. O profissional ressalta que, de acordo com a faixa etária, o tempo pode variar, mas que o ideal é que os pais estejam sempre atentos e procurem monitorar essa exposição.
Solange Massari, especialista em psicopedagogia e mestre em serviço social, tem opinião semelhante quanto ao uso dos eletrônicos como forma de diversão pelas crianças. Ressalta que férias, apesar de serem momento de descanso, exigem certa rotina. Para os pais que não conseguem folga do trabalho neste período, a pedagoga sugere estipular pesquisas de brincadeiras, filmes e receitas divertidas para os filhos, atividades que, posteriormente, serão aplicadas no fim de semana com a família. “Estimular a criança a pensar a rotina junto com os pais é muito interessante, gera empoderamento e desenvolve o senso de organização”, ensina.
Para a pós-doutora em educação Jozimeire Stocco, diretora geral do colégio Stocco, em Santo André, as férias são momento ideal para alimentar o universo criativo da criança, principalmente com passeios ao cinema e a livrarias. “O mais importante é estar junto e perceber como as crianças se desenvolveram no semestre”, afirma. Jozi recomenda que o período seja usado para aprendizado de como organizar itens pessoais e separação brinquedos e roupas para doação, o que ajuda a desenvolver nos pequenos os valores de solidariedade e gentileza com o outro. A educadora reforça que estar junto não tem a ver com a quantidade de tempo que se passa com a criança, mas com como as férias são aproveitadas, o que faz toda a diferença no desenvolvimento dos pequenos, que se tornam adultos mais conscientes e sociáveis. “O tempo junto tem de ser de qualidade. Isso é o mais importante”, finaliza.