Mesmo após o governo do Estado descentralizar a distribuição de medicamentos de alto custo para o Poupatempo de São Bernardo, há cerca de três semanas, a farmácia do Hospital Mário Covas, em Santo André continua alvo de reclamações de pacientes, que criticam não só a falta de medicamentos básicos, mas superlotação e filas que ultrapassam três horas para atendimento inicial.
A aposentada Antonia Tomas do Santos, de 74 anos, precisou ir pelo menos três vezes até a farmácia do Mário Covas para retirar remédio para o sobrinho, que faz tratamento de esquizofrenia. Na primeira vez, levou pelo menos quatro horas para ser atendida e mesmo assim saiu sem o remédio, o Olanzapina.
Já na segunda vez, o impasse foi outro. “Reutilizei a mesma receita e não aceitaram por estar vencida”, reclama. “A pior parte é a burocracia, pois quando ligamos para a farmácia, nos deixam pendurados na linha por uns 30 minutos”, completa. A moradora de São Caetano aguarda a possibilidade de descentralização na cidade. “Pego três ônibus para buscar os remédios, deveriam tomar uma providência”, comenta.
Quem também enfrenta os mesmos problemas é a aposentada Eunice Sampaio Maia Dias, 80, que na primeira tentativa para retirar o Rivastigmina, para tratamento de Alzheimer, não conseguiu levar o remédio. “Fiquei duas horas na fila pra nada. Se na primeira vez já está assim, como serão nas próximas?”, questiona.
Ao menos R$ 150 são gastos mensalmente pela pensionista Josefa Maria de Jesus Nascimento, moradora de Diadema, que faz tratamento de bronquite. Depois de ir no Mário Covas por duas vezes e não encontrar o medicamento, Josefa desistiu. “Sempre a mesma história, perdemos o dia inteiro aqui e no final saímos sem o remédio. É uma falta de respeito com os pacientes”, afirma.
São Bernardo
Em maio, a Secretaria de Estado da Saúde inaugurou a farmácia de alto custo no Poupatempo de São Bernardo. O ponto serve como projeto piloto de descentralização na região, e beneficia 13 mil pessoas. Entretanto, segundo os pacientes, a medida não é totalmente eficaz, uma vez que alguns remédios também estão em falta.
Morador de São Bernardo, Juliano Signori, 56, esteve no Poupatempo para retirar o Quetiapina, para controle da bipolaridade, no entanto não tinha remédio no estoque. Quando foi no Mário Covas tentar retirar o medicamento, foi barrado. “Mesmo com o remédio disponível, não liberaram só porque sou morador de São Bernardo”, reclama.
Outra que reclama sobre a falta de remédios é a aposentada Maria Simião de Souza Lima, moradora do Montanhão, em São Bernardo. A paciente esteve no dia 12 na farmácia do Poupatempo, mas mesmo com agendamento levou somente um dos colírios que utiliza. “Disseram que o Bimatoprosta não tem, terei que comprar, pois não posso ficar sem o remédio”, conta.
Apesar dos problemas com estoque, os pacientes dizem que diminuiu a fila de espera no Mário Covas. “Não precisamos mais esperar três horas pra retirar os remédios”, reitera Maria. Com a farmácia, cerca de 15 mil pacientes de São Bernardo terão acesso aos mais de 200 itens para tratamento de doenças raras.
Todos os medicamentos citados na reportagem, que deveriam estar disponíveis nos estoques, constam na tabela Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), que deve atender às necessidades de saúde prioritárias da população.
Questionada, a Secretaria de Estado da Saúde informa que os medicamentos são comprados e enviados pelo Ministério da Saúde (MS) e que as entregas têm sido parciais e fora dos prazos. Até o momento, o MS entregou 70% do quantitativo dos remédios.
São Caetano terá unidade de distribuição
O Consórcio Intermunicipal Grande ABC avançou as tratativas de descentralização remédios na região. Além de São Bernardo, neste ano também começou a ser trabalhada a expansão do programa para Santo André e São Caetano. Esta última está mais perto de receber uma unidade, que deve funcionar no 2º andar do Atende Fácil (rua Major Carlo Del Prete, 651, Centro). A previsão é que o local comece a funcionar já no 2º semestre deste ano e atenda pelo menos quatro mil pacientes.
Santo André ficará com dois pontos de distribuição de medicamentos. Além do Hospital Mário Covas (que atende todo ABC exceto São Bernardo), está prevista unidade no Poupatempo do Atrium Shopping, no bairro Homero Thon. “Estamos no mesmo patamar de São Caetano. Aguardamos autorização do Estado para instalação da segunda unidade em Santo André”, diz o prefeito da cidade, Paulo Serra.