*Por Murilo Vale
Significativa parcela da sociedade compreende que hoje as questões ambientais influenciam no dia-a-dia, pois alguns temas, como reciclagem, economia de energia e saneamento básico já fazem parte do cotidiano. Por outro lado, o perfil que muitos brasileiros desenham para a qualidade de vida incluem hábitos que são contraditórios ao estabelecimento de um ambiente saudável.
Neste contexto, fortifica-se o consumismo, que pode ser definido como o ato de comprar produtos e serviços sem necessidade. O consumismo é um traço cultural marcante na sociedade contemporânea, sobretudo pela força de ação das mídias de massa, que estimulam o consumo desordenado, com forte ação no público infanto-juvenil. As crianças não nascem consumistas, contudo, são moldadas em determinados padrões de consumo e valores éticos em que o risco às futuras gerações fica evidente.
Um fator complexo no contexto do consumismo é a linha tênue existente entre o consumo e a ética. Comprar produtos falsificados para algumas famílias é algo normal e, pior, é banalizada tal como a corrupção e violência. Crianças que se desenvolvem neste cenário poderão encarar com a mesma naturalidade as questões éticas, sociais e econômicas o que, fatalmente, será péssimo para a execução das ações que a sociedade estrutura para o futuro no campo da sustentabilidade.
Parte do discurso ambiental da atualidade firma-se no desenvolvimento sustentável, entretanto, entendo que o foco para a resolução da questão está, em parte, desviado, pois dá-se muita importância para ações sustentáveis por julgar que estas irão garantir um mundo melhor para as crianças e jovens, no entanto, além disso, é fundamental fortalecer o alicerce da sociedade futura, de forma que esta possa, no mínimo, dar continuidade às ações. Educação é a base.
Nesse contexto, questiono: será que todos nós temos o mesmo referencial para o significado de desenvolvimento sustentável? Em 2050, daqui a 31 anos, o Brasil comemorará 550 anos e, assim, peço sua reflexão: você já está agindo para garantir que o nosso futuro comum seja trilhado à luz dos referenciais da sustentabilidade? Sugiro que acesse http://www.pegadaecologica.org.br e calcule sua ‘pegada ecológica’, ou seja, a quantidade de Terra biologicamente produtiva e de área aquática, necessárias para produzir os recursos que você consome e absorver os resíduos que gera, considerados a tecnologia e o gerenciamento de recursos prevalecentes.
Temos de lutar hoje por crianças e jovens melhores, o que não significa que devemos entregar para eles um mundo com tudo de bom, mas lhe dar condições para que entreguem ao mundo o melhor. Temos de formar uma geração em que a honestidade, a ética e o respeito ao próximo e sejam os pilares. Isso é educação. Isso é sustentabilidade. Esse é o melhor presente para as futuras gerações. Isso delineará nosso futuro comum.
Murilo Andrade Valle é secretário adjunto de Meio Ambiente de Santo André, mestre e doutor em Geologia IGc/USP e professor da Fundação Santo André.