Custo emperra reciclagem de eletrônicos

Na Semana do Meio Ambiente, a coleta de resíduos eletrônicos ainda está longe de ser universal no ABC. Salvo raras exceções, não há programas de coletas de resíduos eletrônicos, exceto na iniciativa privada e a razão disso é que a legislação atual restringe ao setor o processamento destes materiais para reaproveitamento pela indústria. Uma das exceções é uma ação do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) que vai montar uma tenda no Paço Municipal entre os dias 10 e 14 de junho para recolher esses materiais.

Os materiais arrecadados serão encaminhados ao Projeto Lapidar, que realiza trabalho social com menores em situação de vulnerabilidade social. Segundo o diretor de Resíduos Sólidos do Semasa, Elídio Moreira, essa será uma forma de dar o destino correto ao lixo eletrônico. “Em 2018, das 35 toneladas de resíduos secos, 1,8% era de eletroeletrônicos. São gerados 8,3 quilos de lixo eletrônico por habitante no Brasil, país que mais gera o tipo de lixo. Lá fora, a média é de 6 quilos por habitante”, explica.

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A ideia do Semasa é ampliar o trabalho com esse resíduo. “A coleta é encaminhada para as duas cooperativas, mas não fazemos o aproveitamento adequado deste resíduo eletroeletrônico, porque essas cooperativas não têm equipamentos e a expertise. Agora buscamos o passo seguinte, que é fazer um trabalho mais refinado deste material”, diz.

Uma das ações, ainda em fase de projeto, é a criação de outra cooperativa, que receberia os resíduos dos catadores. “Será a primeira cooperativa fora do ambiente do aterro, de portas abertas. Queremos incluir o catador, pagando um valor maior que o mercado. Teremos também alguns serviços de saúde, ação social e cidadania para que eles possam ter um acompanhamento”, anuncia.

A intenção é gerar valor na cadeia de eletroeletrônicos assim como acontece com a de latas de alumínio, em que o Brasil é recordista de reciclagem, atingindo 100%. Para Antônio Carlos Assis, diretor de marketing da ReciclaBR, com duas unidades de processamento de alumínio reciclado em Diadema, isso acontece porque há valor no produto. “Em 30 dias a lata em que consumimos nosso suco, nossa cerveja, volta para o mesmo supermercado, para a mesma gôndola, por conta do valor agregado. Quando nós entendermos o valor agregado do lixo eletrônico vai se criar o valor econômico e a redução do desemprego. Se o Brasil tem mais de um milhão de pessoas capacitadas para a coleta, por que não orientar outros a trazer o lixo eletrônico pelo valor agregado?”, indaga.

Resíduos eletrônicos vão para triagem junto a outros recicláveis (Foto: Divulgação/Semasa)

Custo logístico
Com a política nacional de resíduos sólidos, ficou para a iniciativa privada a responsabilidade para coletar aquilo que fabrica, e tirou o poder público de cena. Esse caminho funciona bem para o alumínio, pelo seu alto valor, mas no segmento de eletroeletrônicos não, por conta do custo. “Existe uma conta que tem de ser paga e a maior despesa é a logística, alguém mais tem de ajudar porque as empresas sozinhas não conseguem”, explica Caio Renato dos Santos, gerente de Logística Reversa da Silcon Ambiental, em Mauá. Por conta do custo, a capacidade de processamento de lixo eletrônico da empresa está subutilizada. “Nossa capacidade instalada é de 300 toneladas por mês, hoje processamos 200. A legislação determina que 17% do material eletrônico têm de ser reciclado mas hoje não chegamos a 5%”.

Para Elídio Moreira, do Semasa, o poder público deve estar inserido no plano. “Se o poder público não estiver envolvido as ações serão incipientes”, afirma.
Para o professor do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano, João Carlos Lopes Fernandes, a geração de valor seria a solução para que os componentes sejam economicamente atraentes. “Uma placa de computador tem vários circuitos banhados a ouro, mas de cada tonelada se tira três gramas de ouro. Custo é alto e o que sobra é muito mais poluente que uma pilha”, afirma o especialista em arquitetura de computadores.

Lia Helena Demange, gerente de Políticas de Resíduos Sólidos, da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) há uma demanda pela recuperação fiscal. “A necessidade é por barateamento da logística e a redução de impostos, já que é considerada uma bitributação, para fechar o ciclo”. A gerente chama atenção para problemas urgentes na área de saúde. “Existem empresas licenciadas para o desmonte dos aparelhos; as cooperativas não deveriam abrir, pois dentro deles há resíduos perigosos como chumbo, produtos persistentes no ambiente e que causam doenças crônicas, como câncer”, alerta.

Para o professor da Mauá o maior desafio é a conscientização. “Tem gente que quebra lâmpada e coloca em recipiente separado, mas tem muitos que não estão nem aí. Conscientizar é o primeiro passo, fazer campanhas. Existem poucos pontos de coleta; hoje os supermercados já recebem lâmpadas, que já é uma logística reversa, mas é pouco”, resume.

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