Na semana em que se comemora o Dia das Mães, um dos principais desafios para os filhos é acertar na escolha do presente ideal. Enquanto isso, para muitas delas, o verdadeiro presente é celebrar o dia em família e agradecer pelo rebento de voltar para casa vivo ou até mesmo suportar as dificuldades da falta de apoio do poder público. Apesar das barreiras e desafios enfrentados, o sentimento de proteção, cuidado, tolerância e o amor de mãe falam mais alto.
Para a dona de casa Maria Aparecida Franco, 76 anos, moradora de Mauá e mãe do policial militar, Marcos Franco, cada data celebrada junto do filho, é uma vitória. Quando o caçula dos cinco irmãos optou por seguir a carreira, ainda adolescente, as orações eram para que o filho reprovasse nos exames.
“Sabia como era a vida de um policial e o risco que ele enfrentaria, mas parece que quanto mais rezava, mais nota boa ele tirava”, brinca ao contar que a preocupação começou logo quando Franco se formou na escola de soldados, em 1994, e começou a trabalhar com Rádio Patrulhamento, em Suzano, e depois Ribeirão Pires. “Quando ele foi para as ruas pronto, não dormia enquanto não chegasse em casa. Quando atrasava já me desesperava”, lembra.
Com o passar do tempo, após Franco se casar, em 2000 e ir morar em Ribeirão Pires e se tornar pai, Maria Aparecida diz que dividiu a responsabilidade. “Aos poucos peguei confiança e já não ligava todos os dias diretamente para ele, só para minha nora”, brinca. A mãe lembra que ao menos um dia na semana almoça com o filho. “O meu Dia das Mães é esse, poder ter ele vivo e saudável ao meu lado todos os dias”, acrescenta.
Filha cadeirante
A distrofia muscular que fez com que Karolina Silva, de 30 anos, dependesse de cadeira de rodas desde o nascimento, não desanimou a garota para alcançar um futuro promissor. Apesar das dificuldades ao longo dos mais de 22 anos, a dona de casa Iracilda Maria da Silva, de 68 anos, sempre esteve ao lado da filha nos momentos difíceis.
Desde que a caçula, das quatro irmãs, tinha oito anos, Iracilda acordava às 3h da madrugada, ao menos três vezes por semana, para levar a filha à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), em São Paulo, onde Karol recebia tratamento. Para fazer o transporte, enfrentou grandes dificuldades, como consertar a van fornecida pela Prefeitura de São Paulo para realizar o trajeto de Interlagos (onde morava) até a associação, no Ibirapuera. “Quantas e quantas vezes, com a van lotada, não ajudei a arrumar?! Diversas”, lembra.
O trajeto, que já era longo, se tornava ainda maior com as paradas para buscar outros pacientes, até mesmo em estágios terminais. “Lembro que chegávamos em casa cerca de 1h da manhã, depois de todos os procedimentos, com a van cheia de gente”, recorda. Para dar conta da rotina, a mãe aproveitava os demais dias da semana para preparar os lanches que a filha consumia no caminho. “Não tinha dinheiro para comprar comida todos os dias no trajeto”, conta.
Iracilda também enfrentou problemas familiares, quando se separou do marido, em 2002, o que a obrigou se mudar para Ribeirão Pires, onde manteve as quatro filhas com o benefício do LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social). Encontrar meios de transporte para levar a filha ao trabalho, em São Paulo, foi outro desafio. “Precisei brigar para conseguir um ônibus que atendesse as necessidades dela. Durante um ano, saíamos às 5h45 e fazíamos quatro baldeações até chegar ao trabalho dela, na praça da República”, conta.
Karolina casou há um ano e mudou de casa, também em Ribeirão. Apesar da proximidade, a mãe sente saudades da companhia da filha. “O que ela precisa, sempre estou lá para ajudar. Sempre foi assim e sempre será. Mãe é isso, estar sempre lá quando a filha precisa, se necessário brigar por ela, e celebrar todos os dias a sua existência”, acrescenta.
‘Não importa a sexualidade’
Aos 12 anos, a mudança de comportamento de Gabriel se tornou perceptível aos olhos da mãe e professora de português, Teresa Pinto da Silva. Após as falhas tentativas de achar resposta em psicólogos, a mãe encontrou esclarecimento numa conversa com o filho. “Disse que não importava sua sexualidade, o amava o suficiente para o definir por isso. Minha única preocupação era a sua felicidade”, diz Teresa ao lembrar do brilho nos olhos e o sorriso no rosto de Gabriel ao ouvir o desabafo da mãe.
Neste momento, Teresa conta que não precisou questionar mais nada, abraçou o filho e lutou contra a discriminação da sociedade. “Os pais intolerantes não estão preocupados com a sexualidade dos filhos, mas com a sua própria imagem, por achar que o filho homossexual foge da percepção de padrão social”, afirma ao dizer que quando contou a nova informação para a família, quando Gabriel completou 16 anos, também enfrentou comentários que não geraram importância.
A mãe relembra ainda das pessoas que se diziam amigas e se distanciaram, e que um dos maiores desafios hoje é seguir, dia após dia, preocupada com a integridade física do filho. “Os que se distanciaram não fizeram falta, apenas substituímos. O que preocupa é a sociedade intolerante, em todos os aspectos, pois isso faz com que nos sentimos inseguros diante dos preconceitos e intolerâncias, sejam eles qual for”, diz.
Diante do medo da violência, com apenas 23 anos e empresário, Gabriel é motivo de orgulho para a mãe, que sonha com a tolerância, respeito e amor entre as famílias. “Meu dia será marcado com união em família e meu maior presente é estar próxima do meu filho, que amo muito junto a mim”, diz.