Invisibilidade e falta de saneamento básico e demarcações de terras são alguns dos problemas que os povos indígenas ainda sofrem no Brasil. Nesse contexto surge, em 2014, o primeiro grupo de rap indígena de São Paulo: Oz Guarani. O conjunto é formado por Xondaro MC, Gizeli Paramirim e Mano Glowers, jovens guerreiros Guarani M’byá, residentes da aldeia Tekoá Pyau, no Jaraguá, Zona Oeste de São Paulo. Oz Guarani se apresenta nesta sexta-feira, 12 de abril, na programação Abril Indígena, do Sesc São Caetano.
Xondaro MC, um dos fundadores do grupo, conta que a ideia de denunciar as mazelas dos povos originários por meio da música surgiu quando as terras do Pico do Jaraguá, em São Paulo, passaram por processo de reintegração de posse. Inspirados pelos Racionais MC’s e pelo rapper Sabotage, veio a vontade de expressar os desejos e lutas do povo guarani por meio do rap. “Com as letras das músicas, podemos levar a discussão inclusive para fora da aldeia, para quem não é indígena”, conta.
No entanto, o caminho do grupo até as apresentações e rodas de conversa, nos moldes que acontecem hoje, não foram fáceis. O rapper relata que, mesmo dentro da comunidade, houve certa resistência a indígenas que cantam um estilo que não faz parte da cultura originária. “Algumas pessoas viram como brincadeira, mas com o tempo isso mudou […] as pessoas perceberam que a luta não é passageira”, afirma.
Nas letras, a luta por resistência fica evidente em composições que debatem política e direitos. O rap Contra a PEC 215, por exemplo, protesta contra a proposta que delega somente ao Congresso a função de demarcação das terras indígenas e exclui os órgãos que atuam nessa frente, como a Fundação Nacional do Índio (Funai). Outras canções falam sobre a destruição da terra e dos recursos naturais, como Pemombaeme, cantada em Guarani.
Xondaro conta, ainda, que o grupo Oz Guarani inspirou outros jovens indígenas a cantarem os problemas do cotidiano das aldeias. Hoje, no palco, não representam somente o nosso grupo, mas os povos originários do Brasil.
Mesmo com pouca idade – Xondaro tem 19 anos -, os integrantes do grupo são lideranças jovens na aldeia. A música é apenas um dos meios de resistência, mas rodas de conversa e atividades culturais fazem parte do cotidiano d’Oz Guarani e de toda aldeia Tekoá Pyau, onde moram em torno de 130 famílias, compostas por 700 adultos e 400 crianças. Com esses atos de resistência no cotidiano, a aldeia sobrevive em São Paulo.
Preservar cultura
Com relação ao futuro dos povos indígenas no Brasil, Xondaro não sabe o que vem pela frente, mas garante que o povo estará unido para preservar a cultura, os costumes e as histórias. “Hoje em dia, não brigamos mais com arco e flecha, brigamos na política […] se o governante não olha pra gente, encontramos jeitos de mostrar nossa luta […] a gente existe aqui, a gente sempre existiu”, declara.
A apresentação do grupo Os Guarani é às 20h, no Sesc São Caetano. O show é gratuito, livre para todos os públicos e os ingressos devem ser retirados uma hora antes da apresentação na Central de Atendimento da unidade.