Estimativa da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) dá conta de que os prejuízos na região com as enchentes que ocorreram entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira (dias 11 e 12) podem chegar a R$ 1,3 bilhão. Além dos prejuízos materiais, as cheias também tiraram 10 vidas no ABC, sendo 4 por deslizamento de terra em Ribeirão Pires, 3 por afogamento em São Caetano, 2 por afogamento em Santo André e uma vítima afogada em São Bernardo.
Os empresários ainda não conseguiram parar para colocar os prejuízos no papel. Além dos moradores, grandes empresas, como montadoras de carros, hipermercados e também pequenos comerciantes, sofreram com as cheias, sobretudo em Santo André, São Bernardo e Mauá. Isso sem falar nos gastos dos poderes públicos municipais e estaduais, com resgate e atenção às vítimas, tanto na área de saúde como social, limpeza de ruas e isenções de impostos. Ainda entram na soma aos gastos de combustível de quem ficou parado nos congestionamentos, dos consertos de carros atingidos, danos em residências, falta de funcionários no trabalho e fechamento de escolas e universidades.
Para o coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Jefferson José da Conceição, os prejuízos são enormes e uma forma de estimar os prejuízos é calcular a média do Produto Interno Bruto da região vezes os dias parados. Segundo o cálculo, a região perdeu ao menos R$ 431,3 milhões do PIB quando ficou praticamente parado na segunda-feira (11), mais R$ 107,8 milhões, considerando que 25% das empresas podem ter ficado inoperantes por até sete dias, totalizando R$ 539 milhões. Nas contas da USCS, não entram os prejuízos com danos em imóveis, carros e maquinários danificados.
O número, admite o professor, é uma estimativa muito preliminar. “Não é arriscado dizer que podemos calcular do dobro do PIB diário da região e somando com as perdas de imóveis, carros, matérias primas e maquinários, podendo chegar seguramente a R$ 1,3 bilhão“, calcula. Ainda de acordo com Conceição, o assunto será abordado na próxima Carta de Conjuntura da USCS. “As prefeituras precisam investir mais na prevenção e em métricas confiáveis, porque a cada fenômeno os danos são maiores”, avalia.
O empresário Antonio Delazeri, proprietário da churrascaria Varandão, no bairro Paulicéia, em São Bernardo, diz que ainda não parou para contabilizar os prejuízos. O estabelecimento foi violentamente atingido pela enchente do córrego Curral Grande e do Ribeirão dos Couros. As mesas chegaram a flutuar, clientes tiveram que ser retirados pela janela e levados para pontos mais altos. Mercadorias e maquinários foram perdidos. Desde a enchente, os trabalhos de recuperação não pararam e a churrascaria ainda não reabriu as portas. “Perdeu-se tudo, mas ainda não parei para calcular, estamos pensando à frente, para reabrir sexta-feira (15) ou sábado (16)”, destaca o empresário, que se diz emocionado pelas demonstrações de apoio de clientes e vizinhos do estabelecimento. “Em 36 anos que estou aqui só houve algo parecido há mais de 20 anos, antes da construção dos piscinões, de lá pra cá não tinha acontecido mais. Agora entrou mais de 1,70 metro de água e destruiu tudo”, conta Delazeri ao completar que o seguro não cobre o prejuízo e que estuda recorrer à Justiça.
Seguro
O setor de seguros ainda não tem avaliação do impacto das enchentes do fim de semana. Segundo Andreia Paterniani, diretora de sinistros da Sompo Seguros, ainda não é possível avaliar. “Quanto aos valores indenizados, como ainda não temos dados finais da quantidade de sinistros relacionados especificamente a esse evento, não há como estabelecer um montante a ser indenizado. Os riscos de situações como essa já estão calculados e os processos de sinistros seguem seu trâmite normal de análise (que no ramo de seguros chamamos de regulação) e indenização”, analisa. A diretora não crava o aumento no valor do seguro nas áreas mais afetadas, mas diz que essa condição entra no cálculo da apólice. “Não há um percentual específico aplicado ao fator enchentes e inundações, até porque são fenômenos da natureza. O cálculo da apólice leva em conta diversos fatores relacionados a cada segurado, entre os quais estão: estilo de vida do segurado, finalidade do imóvel, área construída, localidade, entre outros. É o conjunto de fatores relacionados ao imóvel que faz com que o risco seja aceito ou não”, conta.
O empreiteiro Marcelo Borges Galo, de 45 anos, perdeu tudo o que tinha em casa, no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo, além do carro que usa para o trabalho, o que cessou a renda mais importante da família. “Minha mulher é doente, não trabalha, minha mãe também tem problemas de saúde, portanto a minha renda é a mais importante da casa, mas estou sem poder trabalhar para repor as coisas de casa. Perdemos tudo, até a roupa estamos usando de doações”, relata. Somente o orçamento para o conserto do veículo do morador ficou em R$ 1 mil.
Várias empresas ainda não conseguiram reabrir
Outras empresas tiveram enormes prejuízos. A Mercedes-Benz teve a linha de produção invadida pelas águas e só retomou as atividades terça-feira (12). Em nota, aponta falta de manutenção de equipamentos como agravante. “É importante ressaltar a importância da limpeza e da manutenção frequente dos rios e também dos piscinões e bueiros locais a fim de ajudar a dispersar o volume de água e evitar tantos estragos. Com a manutenção, o impacto poderia ter sido menor a todos”.
A Bridgestone, em Santo André, também foi afetada. A empresa não cita números. “A Bridgestone está avaliando os impactos decorrentes da forte chuva que caiu sobre a região de Santo André no domingo”, relata a nota.
Na concessionária Primarca, em São Caetano, a enchente atingiu carros novos que estavam no showroom e também mesas e computadores. A loja permaneceu fechada e só reabriu quinta-feira (14). A Apetece, situada na avenida Guido Aliberti, em São Caetano, ainda calcula os prejuízos. Em nota, relata que perdeu equipamentos, estoque de alimentos e materiais. A empresa faz 8 mil refeições por dia. Em dezembro, a Prefeitura contratou a Apetece para fornecimento de refeições aos funcionários, no valor de R$ 2.393.124,48 ao ano. “Para contornar a situação, estão sendo usadas outras 3 unidades de cozinhas”, informa.
Na rua Jurubatuba, em São Bernardo, os lojistas tiveram prejuízos pela segunda vez em quatro meses. Na segunda-feira (11), os lojistas chegaram a fechar a via ao empilhar móveis danificados. Mas, depois que o prefeito Orlando Morando assinalou que conversará com o setor para organizar uma feira para tentar compensar as perdas, o movimento foi suspenso.
Lixo ao lado de piscinão assusta moradores
Os moradores do bairro do Rudge Ramos, em São Bernardo, estão preocupados com a quantidade de entulho junto ao piscinão Tanque das Mulatas. O local foi tomado por restos de móveis e todo o tipo de detritos que foram recolhidos das ruas após a enchente dos dias 11 e 12. O empreiteiro Marcelo Borges Galo, de 45 anos, que mora em frente ao piscinão, disse que o material está sendo depositado pelos caminhões da Prefeitura.
O morador teme que, se chover novamente, todo o material venha entupir galerias e cause enchentes maiores. Galo morador perdeu tudo o que tinha em sua casa: móveis, mantimentos e até roupas. “O lixo está na altura do muro do piscinão e se chover novamente vai transbordar de novo e pode ser pior”, conta. A Prefeitura não respondeu até o fechamento desta edição.