Com os centros de controle de zoonoses (CCZ) superlotados, os animais de rua continuam sem cuidados, perdidos e com ferimentos nas ruas da região. O resgate, de acordo com as prefeituras, é feito somente em casos de emergência, quando há suspeita de zoonoses. Sem soluções efetivas do poder público, quem assume a responsabilidade do cuidado comunitário são as ONGs, comerciantes e população local.
Pioneira na região, Mauá foi a única cidade do ABC a apresentar projetos aos animais de rua. Em abril de 2018, instalou comedouro e bebedouro na praça 22 de Novembro, no centro, onde pets recebem alimentação mediante abastecimento feito por protetores. Uma das voluntárias nesta tarefa e responsável pela fiscalização e limpeza é a autônoma Telma Barros Fukuda, moradora do Parque das Américas que, diariamente, há pelo menos 12 anos, abastece o comedouro oficial e outros potes de ração espalhados pela praça.
A voluntária vai além e recolhe animais doentes, em lares temporários, até que estejam aptos para adoção. Via Facebook, divulga fotos dos animais e pede contribuição de outros colaboradores. “Para se ter ideia, 12 cães que acolhi estão aptos para adoção […] Um (cuidador) ajuda a divulgar, outro mobiliza a população para angariar alimentação e assim levamos” explica.
Em Ribeirão Pires, com 45 animais resgatados, a superlotação do CCZ se repete, e sem auxílio do poder público, em dezembro de 2018, os comerciantes do centro se uniram e instalaram os comedouros e casinhas para os animais. Proprietário da loja de brinquedos e derivados no calçadão central, Raul Nogueira cuida de Ralf, Manco, Melk e Neguinho, cães que passaram a frequentar o espaço após instalação dos comedouros. “Costumo dizer que são nossos adotados. Cuidam de nós, são companheiros e seria injusto deixá-los sem cuidado”, diz.
Stoppa
Um pouco em frente, outras duas casinhas, bebedouros e comedouros foram encontrados. No local está o Stoppa, cão de 11 anos, já conhecido pelos moradores e taxistas da região, junto a outros dois cachorros recém chegados. Quem cuida dos pets são os 25 taxistas que, mensalmente, reúnem dinheiro para alimentação. “Já capturaram ladrão e colocaram muita gente ruim para correr. Quando veem que alguém está mexendo conosco, correm para morder”, explica Wilson da Fonseca, um dos taxistas. “Pegamos carinho, não vamos deixar de lado como a Prefeitura faz”, critica.
Em Diadema, a população também se uniu e montou abrigo para os animais abandonados na rua Vera Cruz, Parque Sete de Setembro. No local, estão dois cães adotados pela população, resguardados e monitorados por cuidadores locais. Em São Bernardo, São Caetano e Rio Grande da Serra, não foram constatados pontos de abrigos comunitários. (Colaborou Leticia Vasconcelos)
Prefeituras recolhem somente em situação crítica
Em nota, as prefeituras justificam que os abrigos atuam com capacidade máxima de animais e que, pela determinação da lei estadual 12.916, de 16 de abril de 2008, não aceitam doação de animais saudáveis e, recolhem animais apenas em situações de mordeduras, atropelados, agonizando e/ou casos graves de saúde pública.
No período de chuvas, em situações de emergência, os CCZs podem ser acionados para auxiliar no resgate de animais, no entanto, com exceção de Mauá, as cidades não fornecem atendimentos veterinários gratuitos, somente castração, nos períodos de campanha para evitar a proliferação.
As vagas nos centros de zoonoses são liberadas mediante as feiras de adoção animal. Em São Bernardo, por exemplo, em 2018, cerca de 135 animais ganharam novo lar, e novas vagas foram preenchidas, enquanto em Diadema são adotados ao menos 30 pets ao mês.
Adoção
Quem deseja adotar um novo amigo pode entrar em contato com os centros de controle de zoonoses ou participar de feiras de adoção. Para a posse responsável, o interessado deve ter mais de 18 anos, apresentar cópia do RG, CPF, comprovante de residência e informar telefone para contato. Também é necessário levar coleira e caixa de transporte.