Não é de hoje que os sambas enredo fazem parte do Carnaval, com composições que exaltam a beleza, a cultura brasileira e contam a nossa história de maneira ritmada e musical, com letras ricas que, muitas vezes, não podem ser totalmente apreciadas nos desfiles nas avenidas. Mostrar a riqueza e exaltar a poesia dessas composições carnavalescas é a proposta de Igor Eça, Mingo Araújo e Paula Santoro no projeto Avenida Samba Canção. O trio traz sambas enredo emblemáticos, que marcaram a história do Carnaval carioca, em novos arranjos, com apresentação nesta sexta-feira, 1º de março, no Sesc Santo André.
Igor Eça, diretor musical e arranjador do espetáculo, conta que os sambas enredo já eram uma paixão antiga antes do projeto surgir, em 2015. Após trabalhar com adaptações de sambas para a MPB, o músico decidiu tirar o projeto do papel, em parceria com o percussionista Mingo Araújo. “Como diz a música ‘vou botar meu bloco na rua’ [risos] e foi o que fiz”, afirma.
Desde então, o trabalho da dupla se intensificou e, com estudos históricos e musicais, o projeto se empenha em mostrar a importância dessas composições enquanto arte e cultura, além do desfile de Carnaval. “É um trabalho que começa praticamente do zero, então queremos mostrar o quanto a canção é bonita”, explica.
A cantora Paula Santoro, mais nova integrante do grupo, começou no Avenida há apenas seis meses, e conta que arranjar os sambas em novos ritmos, como o bolero, bossa nova e maracatu, tem sido um trabalho intenso, mas muito rico. Mineira de Belo Horizonte, Paula Santoro conta que o samba ganhou espaço na sua vida há 20 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro e começou a interpretar Cartola, Dorival Caymmi e outros grandes nomes em casas de gafieira.
Paula e Igor afirmam que o maior desafio do projeto Avenida Samba Canção está na adaptação das canções para novas roupagens, trabalho que exige, além de tudo, sensibilidade. “Temos de entender a alma da música, o que ela demanda de nós […] a música é o grande astro do show, a atenção tem de ser dela”, diz a cantora.
Contexto histórico
A seriedade com a qual o grupo encara o trabalho de adaptar os sambas enredo é tanta que contam com a ajuda de Hugo Sukman, jornalista e escritor especializado em música brasileira, que ajuda na contextualização histórica das canções. Exemplo é o samba Heróis da Liberdade, apresentado pela escola de samba carioca Império Serrano em 1969, com letra que desafia o período da ditadura militar, poucos meses depois da instauração do Ato Institucional nº 5, que acirrava a perseguição a inimigos do regime. O contexto é apresentado para o público durante o show, numa espécie de aula musicada, como define Paula Santoro.
Para a cantora, são atos de resistência como esse que mostram que o samba enredo é mais do que apenas entretenimento e folia. “Também é história, também é política […] O samba enredo também é a história do Brasil”, completa.
Avenida Samba Canção, com Igor Eça, Mingo Araújo e Paula Santoro
Data: 1º de março (sexta-feira), às 21h.
Ingressos: De R$ 6 a R$ 20, pelo site e bilheterias da Rede Sesc.
Recomendação etária: 12 anos.