‘Não podemos ser dogmáticos, isso seria um retrocesso’

Primeiro nome do Partido Novo a ser eleito para comandar um Estado na esteira da onda de renovação política que marcou as eleições do ano passado, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vai delegar aos deputados de sua base de apoio na Assembleia Legislativa a prerrogativa de escolher técnicos para comandar as superintendências regionais de Saúde e Educação, antigos feudos da velha política mineira.

A decisão resvala no discurso do Novo que entre outras coisas defende processos de seleção para o preenchimento de cargos públicos.

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Segundo Zema, o objetivo é aproveitar o “conhecimento” dos deputados em suas regiões. “Não podemos ser dogmáticos. Isso seria um retrocesso”, disse ele em entrevista ao Estado, a primeira desde que assumiu o governo.

Na conversa, Zema também falou sobre a tragédia provocada pelo rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho. Segundo ele, houve “pirotecnia” de setores do poder público e a catástrofe não foi um problema ambiental, mas de engenharia.

Leia os principais trechos da entrevista.

O senhor fez críticas duras ao PT e ao PSDB durante a campanha. Nomear para a administração estadual filiados ao PSDB não é uma contradição?

De forma alguma. Muito mais do que dominar o País nós queremos é mudar o País. Isso é o que tem que ficar claro. Somos um agente indutor de mudanças e que não quer se apoderar da máquina pública. Queremos mudar o que existe.

Houve alguma pressão do Novo para que o senhor nomeasse quadros do partido?

Não houve. É lógico que há alguma pressão pequena de uma outra pessoa que contribuiu com as ideias do Novo e desrespeitando os próprios ideais do partido quer alguma coisa para si ou algum conhecido.

Outro motivo de críticas é a manutenção do Germano Vieira (ex-secretário no governo do PT) na Secretaria de Meio Ambiente. Por que ele foi mantido?

Mesmo que eu… mesmo que ele não tivesse sido selecionado estaria na Secretaria porque é funcionário de carreira. Conversando com várias entidades ligadas à indústria, agricultura e mineração elas foram unânimes em afirmar que após o acidente de Mariana foi quando o Germano assumiu que houve um certo controle.

Foi na gestão dele que ocorreu a revisão das regras e rebaixou a classificação de risco para barragens como a de Brumadinho.

Existe uma confusão muito grande em relação à Secretaria do Meio Ambiente. O que aconteceu aqui em Minas foi que um problema de engenharia causou um desastre ambiental e uma tragédia humana. Para todos os efeitos a população e a mídia tem crucificado a área ambiental que tem a responsabilidade de analisar o impacto da barragem sobre o ambiente. Ela não tem poderes para ir lá e avaliar a solidez da barragem.

A mudança nas regras de classificação de risco não diminui o controle do Estado sobre a segurança sobre as barragens?

Vamos lembrar aqui que a barragem de Brumadinho foi autorizada em 1976. Desde o acidente de Mariana ela não recebia rejeitos. Até falo que o caso de Brumadinho é um cadáver que saiu andando. Ela estava desativada há três anos e de repente tivemos este acidente. Não estou defendendo nem acusando ninguém aqui, mas o que está em xeque e vamos ter que rever são os critérios da própria engenharia de construção de barragens. Depois deste acidente de Brumadinho nenhuma barragem recebeu a classificação de segura. Ninguém quer assinar mais nada para não ficar com a batata quente na mão.

A prisão dos engenheiros levou a este cenário?

Estou aguardando o final do processo. Sei que nestes momentos em que as emoções estão afloradas parece que algumas áreas do poder público querem demonstrar para a população que agiram ou que fizeram algo. Mas o que cabe neste momento é analisar a real causa do que ocorreu e não pirotecnia que às vezes ocorre em alguns setores do poder público, infelizmente.

O senhor está falando do Ministério Público?

Não quero citar ninguém. São vários. Aí tem de todas as esferas. Até do Executivo. Talvez em Mariana o problema tenha sido este. Precisou acontecer outra vez para que tenha um aprendizado. Ficar gritando “culpado”, “prende”, “bem feito” muda alguma coisa na legislação ou na técnica de construir barragem? Não.

A impunidade não é um motivo para que este tipo de coisa continue a acontecer?

Certamente. Se houver culpados que sejam punidos com todo o rigor que a lei determina.

O Novo vai ter que flexibilizar suas propostas para se adaptar à realidade de administrar um Estado do tamanho de Minas Gerais?

Sou totalmente contrário a qualquer tipo de radicalismo ou de postura de quem se acha dono da verdade. Nosso objetivo é sermos protagonistas de uma mudança cultural no setor público e com certeza não é de um dia para o outro que vamos conseguir isso. Vamos ter alguns momentos como este das superintendências regionais de saúde e educação, até por causa do conhecimento de políticos que já estão aí há muito tempo e sabem que é bom e quem é ruim e que podem colaborar. Não podemos ser dogmáticos, isso seria um retrocesso.

O senhor disse que é contra radicalismo, mas o Novo defende mudanças radicais.

Não considero, não. Considero meritocrática e só. Vale lembrar que no caso das superintendências regionais vai ter um processo seletivo no qual serão selecionados dois ou três nomes e a classe política vai estar depois indicando qual desses nomes é o mais conveniente para eles. Se for alguém ruim nós não vamos aceitar, mas vamos dar a prerrogativa de eles participarem. Não podemos nos dar o luxo de falar que vamos escolher quem é o superintendente e o deputado ficar sabendo depois.

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