Os trabalhadores da Ford de São Bernardo não voltam ao trabalho antes da próxima terça-feira (23/02) uma semana após o anúncio da montadora de que encerraria a produção de caminhões e que ao longo de 2019 desativaria a fábrica de São Bernardo. Nesta quinta-feira (21) o governador João Doria (PSDB) participa de uma primeira rodada de negociações para tentar manter a fábrica e evitar a demissão de 2,8 mil trabalhadores diretos e outros milhares de indiretos.
A reunião desta quinta-feira, foi confirmada pela assessoria do governador João Doria e vai acontecer as 10hs no Palácio dos Bandeirantes. Também participam da reunião o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB) e a direção da fábrica.
Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e coordenador da Comissão de Fábrica, Adauto de Oliveira, o Sapinho, os operários não tem condições psicológicas de trabalho. “A situação está muito tensa, o pessoal não tem condições de trabalhar porque o risco de acidentes é muito grande, pois essa situação é abalou psicologicamente a todos”, disse Sapinho. O dirigente sindical trabalha há 25 anos na Ford e avalia que a produção estava em um nível baixo, mas se sustentava havia tempos. “Como a fábrica é a única que tanto faz carros como caminhões, quando uma linha parava a outra seguia”, relatou.
‘Poderemos ocupar a fábrica’, diz sindicalista
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, informou que apenas na assembleia de terça-feira da próxima semana serão anunciadas medidas contra a decisão da Ford, caso até lá a empresa não altere sua posição.
“Poderemos fazer greve, ocupar a fábrica, colocar a luta na rua”, diz. “Nossa ação será de acordo com o exagero e desrespeito que a Ford teve com os trabalhadores.” Ele reclama que a empresa não foi a várias reuniões marcadas nos últimos meses, “sinalizando sua apatia”.
No comunicado divulgado há dois dias, a Ford afirma querer construir um “negócio rentável e sustentável na América do Sul”. Segundo a empresa, o grupo perdeu US$ 4,5 bilhões nas operações do Brasil, Argentina e Venezuela de 2013 a 2018.
O grupo vai concentrar sua produção na fábrica de Camaçari (BA), que recebeu vários incentivos no período da construção, em 2001, e conseguiu, no fim do ano passado, a prorrogação até 2025 do regime automotivo para o Nordeste, que concede benefícios fiscais. A fábrica da Fiat em Pernambuco também está nesse programa.
Empregado espera que Ford volte atrás
Sem conseguir dormir a noite toda, a inspetora de qualidade Carolina Miranda, de 38 anos, chegou cedo ao portão da fábrica da Ford nesta quarta-feira, 20, em busca de detalhes sobre a decisão da empresa de fechar a fábrica, anunciada na tarde de terça-feira. “Estávamos trabalhando quando fomos informados. Fiquei sem chão, muita gente chorou”, conta ela, que trabalha na unidade de São Bernardo do Campo, há 11 anos.
Sua esperança é de que a empresa volte atrás. O marido, que era caminhoneiro, está sem trabalhar há um ano. “O caminhão foi roubado e não tivemos como comprar outro.” É ela quem mantém a família, paga os estudos das duas filhas de 19 e 20 anos e as prestações da casa e do carro, ambos financiados. “Não sei o que farei se perder o emprego.”