A primeira sessão legislativa da Câmara de Santo André, nesta terça-feira (05/02) foi pautada na falta de água. Manifestantes vindos de vários bairros da cidade, munidos de faixas e cartazes tomaram a plateia desde o início dos trabalhos. Gritando palavras de ordem e exigindo uma posição do governo, os manifestantes chegaram a paralisar os trabalhos em vários momentos, um homem chegou a ser conduzido para fora do plenário pela Guarda Civil Municipal.
Mesmo antes do início da sessão, os manifestantes já se organizavam do lado de fora da Câmara. O professor de Muay Thai, Arley Carlos, morador da Vila Lutércia, diz que seu bairro sempre foi problemático para o recebimento de água, mas no último mês a situação piorou muito. “Antes a gente ficava um dia sem água, agora são 3. A gente liga no Semasa e dizem que é manutenção”, disse o professor que passou o último final de semana sem água. “Acabou na sexta e só voltou no domingo à noite”, resume.
Morador do Parque João Ramalho, o aposentado Celestino Marques, disse nesta terça-feira (05/02) que sua casa está sem água desde sexta-feira. “Estou tomando banho na casa de amigos, na minha só tem roupa suja e louça para lavar, mas não tem água nem para usar no banheiro”, relata Marques que disse que há dois meses a situação é essa.
CPI
Dentro da Câmara nem a pressão popular fez com que a proposta feita pelo vereador Sargento Lobo (SD), fosse aceita. O parlamentar propôs a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a crise hídrica da cidade. “Tem que instaurar a CPI do Semasa. Não adianta trazer comissionado aqui, tem que trazer o prefeito, nem que seja com poder de polícia”, disse Lobo ao comentar a articulação com os vereadores governistas para que representantes do governo viessem à Câmara dar uma justificativa aos manifestantes. “O Semasa é uma dúvida para a cidade, eu entendo ser uma grande caixa preta, e as justificativas do prefeito Paulo Serra (PSDB) também não convencem, ora fala que não paga o acordo com a Sabesp porque a mesma não cumpriu acordo com a prefeitura e nesse impasse quem sofre é a população”, justificou Lobo. O pedido de CPI precisava de 7 votos para ser protocolado, o vereador percorreu os gabinetes e as mesas dos parlamentares, um a um, mas não conseguiu apoio suficiente.
O presidente da Casa, Pedrinho Botaro (PSDB) chegou a deixar o exercício da presidência por alguns instantes para tentar trazer alguém do governo, para falar na Câmara sobre o problema mas também não conseguiu. “Hoje a gente não conseguiu nem ver todos os requerimentos protocolados pelos vereadores por conta do protesto. As pessoas vieram até aqui para falar, e estão antecipando muito a disputa eleitoral de 2020”, disse referindo-se às lideranças políticas entre os manifestantes e os cartazes contra o prefeito. “A temperatura hoje demonstra que é mais uma questão política do que realmente a falta de água”, resumiu.
O articulador político, Donizeti Pereira, disse que o governo tem monitorado a situação, e que o sistema tem se normalizado aos poucos. “No geral temos o problema do volume de água vindo da Sabesp e no domingo tivemos um problema no sistema Rio Claro que afetou 75% da cidade, por problema da Sabesp”, disse o membro do governo que descarta completamente a versão de que a falta de água esteja relacionada à dívida do Semasa com a Sabesp, que segundo a autarquia é de R$ 2,5 bilhões e segundo a estatal estaria em R$ 4 bilhões. “Se fosse assim estaríamos sem água desde o ano passado; o prefeito esteve com o governador e garantiu que não há nenhum tipo de boicote para cortar a água”, resumiu.
PT entra com representação no Ministério Público
Enquanto o pedido de CPI não foi aceito na Câmara, a bancada do PT, encabeçada pelo vereador Eduardo Leite (PT) protocolou nesta terça-feira (05/02) uma representação no Ministério Público contra a Sabesp e contra a Prefeitura de Santo André. O objetivo da representação é fazer com que a Sabesp forneça água em volume compatível com a necessidade da cidade. O Semasa diz que precisa de 2,2 mil litros de água por segundo, mas só recebe 1,3 mil litros por segundo, já a Sabesp diz que fornece a quantidade de água suficiente para abastecer a cidade. “A única forma da Sabesp prestar um serviço adequado é a possibilidade de uma multa pesada, porque daí os acionistas da Sabesp vão se preocupar mais. O Semasa precisa retomar a ampliação da captação e tratamento de água, um projeto que foi deixado em Banho Maria. Enquanto estivermos dependentes de 95% de água da Sabesp, vamos estar sujeitos a isso (falta de água). Então a Sabesp tem que ser multada e a prefeitura retomar a ampliação da capacidade de tratamento e criar canais de comunicação mais eficientes para a população, pois as pessoas não podem serem pegas de surpresa com a suspensão do serviço”, destacou Eduardo Leite.