Caixas e baldes cheios de água para realizar as tarefas diárias. Essa é a solução encontrada por muitos moradores do ABC para garantir o banho no fim do dia, antes mesmo do fechamento da água. O problema se tornou comum em muitos bairros da região, onde a temporada de calor ainda nem começou.
Para os que trabalham o dia todo fora e/ou utilizam água à noite, o fornecimento parcial implantado pelas autarquias responsáveis pelo abastecimento é totalmente falho, uma vez que quando chegam em casa, o serviço já foi interrompido. É o caso da confeiteira Silvana Bonomi, moradora da vila Palmares, em Santo André, que teve de adaptar um novo horário para conseguir produzir os doces que vende.
Após as 21h, o fornecimento de água é suspenso na sua casa e volta somente às 6h do dia seguinte. “Há três anos é a mesma história, e quando liberam água até um pouco mais tarde pode ter certeza que no dia seguinte vai faltar de manhã”, reclama. Na rua Pindorama, no bairro Parque João Ramalho, a situação é ainda pior. Além das reclamações junto ao Semasa de que há uma interrupção no fornecimento no início da noite, por volta das 19h, a conta de água tem vindo mais cara para a dona de casa Marli Feriani.
“Desde que trocaram o hidrômetro, há uns cinco meses, minha conta subiu de valor e, quando questionei disseram que não haveria alteração no valor”, relata sobre a cobrança que passou de R$ 112, em 2017, para R$ 157, neste ano.
As reclamações também ocorrem em Mauá, onde o horário de banho e de lavar roupas não é o mesmo ao decorrer do ano. No bairro Zaíra 5, ou se vira com o pouco abastecimento que a caixa d’água recebe, ou opta pela madrugada, quando a pressão é maior. “Faça sol ou chuva a água sempre acaba meio-dia, ou às vezes bem antes, e só volta no outro dia. Sinceramente, aqui é terra de ninguém, estamos esgotados”, comenta uma moradora da rua Meitoku Shimabuco, que preferiu não se identificar.
Quem não possui caixa d’água na rua José Vidal Senin, no bairro Guapituba, em Mauá, também fica sem água após as 11h. Para se ter ideia, os moradores precisam acordar cedo para conseguir lavar roupa e fazer as tarefas que incluam utilização de água, pois à tarde o bairro sofre com as torneiras secas .
“Mesmo com caixa d’água grande, quando vou lavar roupa preciso guardar água nos baldes, caso contrário, acaba faltando”, conta a podóloga Jaqueline Arnone, 35 anos. Cansada da situação, a reclamante considera que “Mauá está uma bagunça total”.
Na cidade vizinha, em Ribeirão Pires, quem mora na vila Sueli ou em algumas ruas da região central, é atingido com o desabastecimento no fim da noite. A estudante Karina Cavalcante, de 23 anos, conta que por diversas ocasiões deixou de tomar banho quando voltou da faculdade à noite, por causa da da redução. “Minha mãe limpa a casa no fim de tarde, utiliza a água, e quando chego, às 23h, já não tem um pingo na torneira”, reclama.
Em Diadema, os bairros Canhema e vila Alice também apresentam problemas de desabastecimento. Nas ruas Reverendo Atael Fernando Costa, Peabiru e Aíres da Cunha, a água começa a faltar por volta das 22h e o abastecimento é retomado somente no outro dia, às 6h. “Quem usa o banheiro à noite se complica”, ironiza a agente de Saúde, Elivania Silva.
Sabesp, Sama e Semasa negam desabastecimento
Procuradas pelo RD, as três companhias de saneamento que operam na região: Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), negam qualquer tipo de problema em relação à distribuição de água durante o verão. Todas reforçaram que aconteceram investimentos para que houvesse redução das reclamações. Não haverá qualquer tipo de ação especial para o período.
A Sabesp informa “que não há falta d’água e o abastecimento está normal em todos os municípios atendidos pela companhia. Em abril deste ano, a Sabesp inaugurou o Sistema São Lourenço, que ‘avançou’ sobre cidades e bairros atendidos pelo Cantareira, diminuindo o uso do sistema. Além disso, a companhia também inaugurou a interligação Jaguari-Atibainha, que pode transferir até 8.500 litros por segundo de água do Vale do Paraíba para o sistema Cantareira”.
No caso do Semasa, que opera em Santo André, a autarquia informa que houve aumento da média de vazão de água diária para o município para 2,3 mil litros por segundo. Sobre a possibilidade de desabastecimento à noite, a empresa pede que os moradores instalem caixas d’água que assegurem fornecimento por 48 horas, para evitar o problema de falta d’água.
Em Mauá, a Sama, esclarece que os problemas de falta d’água no município não ocorrem por questões ligadas diretamente pela estrutura da autarquia. Interrupções podem ocorrer por manutenções e obras que são “brevemente sanadas”. “Lembramos que paradas obrigatórias para manutenção realizadas pela Sabesp são ocasiões que afetam o abastecimento de água em nossa cidade”, diz a Sama em nota. (Colaborou Carlos Carvalho)