Educadores de Santo André participaram nesta sexta-feira (07/12) de debate no RDTv sobre o projeto Escola Sem Partido. A medida recebeu muitas críticas com os professores defendendo o ambiente escolar como espaço de pluralidade de ideias e que não há doutrinamento. Os debatedores ainda falaram sobre caso da professora da Emeief (Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental) que foi acusada de descaso e que acabou sendo agredida verbalmente nas redes sociais, sofrendo até ameaças de agressão. A denúncia, feita por uma mãe de aluno não foi confirmada.
O presidente do Sindserv (Sindicado dos Servidores Públicos) de Santo André, Rodrigo Gomes, detalhou as providências que a entidade adotou assim que foi notificada o episódio envolvendo a professora. “Fomos diretamente à mãe para pedir que a mãe retirasse a postagem, contatamos a professora e fomos até a escola. No dia seguinte articulamos o movimento e todos os educadores usaram preto em protesto. Também disponibilizamos o departamento jurídico e colocamos o assunto como pauta do conselho municipal de educação fizemos abaixo assinado com mais de 700 assinaturas. A mãe usou um fórum inadequado, a internet, e depois surgiram comentários de ódio, bem pesados. Hoje aconteceu com essa professora que é integra, mas pode acontecer com qualquer um”.
“Temos que dizer um não a esse tipo de atitude. Não teve fundamento o conteúdo desta denúncia. Tem que ter liberdade de comunicação desde que de acordo com a lei e com responsabilidade. O que chamou atenção é que várias mães queriam bater na professora”, comentou a professora Daisy Dias Cunha, professora e diretora do Sindiserv.
Para Sol Massari, professora e mestre em Serviço Social, a violência da qual a professora foi vítima é fomentada por esse programa escola sem partido. “Na página do movimento deles os membros pregam que professor é para dar aula de português e matemática, o que passar disso é para denunciar e até espancar. Declaram ainda que professor é fazedor de idiotas diplomados. Essa violência está sendo colocada pelo Escola Sem Partido”, analisa. ”Querem os jovens domesticados para serem dedos duros; estão incentivando uma ideologia de violência. Porque não falar sobre política que não é só a partidária, política é parte das ciências sociais”.
Daisy critica também os defensores do projeto. “As pessoas engajadas nesse projeto não são de sala de aula. A gente luta por pluralidade de ideias na escola, e vários autores são trazidos. Como o jovem vai se expressar para a sociedade? (o projeto) Não tem embasamento teórico e é feito por pessoas que não conhecem nada da educação”, detalha a professora.
“Educação é cultura, se retira Sociologia, História, voltamos com a educação arcaica ensinando só a somar e escrever. Estão matando Zumbi dos Palmares de novo. Como vou discutir em sala de aula o direito do voto da mulher sem discutir o movimento feminista, isso pode ser colocado pelos pais como se eu estivesse doutrinando pelo viés de gênero. Como falar da segunda guerra sem falar da revolução russa, vão dizer que é ideologia de esquerda”, comentou Sol.
Para o presidente do Sindserv falta esclarecimento. “É saudável que conheçamos todas as correntes. Enquanto discutimos projetos como esse que já tem vários pareceres contrários, e não discutimos um piso mais justo para os professores ou o aumento de vagas no ensino superior. Isso é desviar o foco do desenvolvimento de uma educação mais justa e perdemos tempo nessa firula”, finaliza Rodrigo Gomes.