Utilizando das palavras “tragédia” e “desastre”, o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro criticou o fim da parceria entre os governos de Cuba e do Brasil em relação a disponibilização de profissionais da ilha caribenha para o programa Mais Médicos. Em entrevista exclusiva ao RDtv, nesta segunda-feira (19/11), o médico afirmou que a população mais pobre sofrerá com as consequências.
Para Chioro, o repentino rompimento da parceria entre Brasil e Cuba causa preocupação não apenas para a saída dos 8.500 médicos cubanos que deixarão o país até dezembro, mas também em torno de todas as questões que foram usadas como críticas políticas que foram utilizadas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em torno deste assunto.
“O presidente Bolsonaro afirmou que o programa Mais Médicos está sendo usado para ajudar a ditadura cubana. Muito bem, se a lógica é esta, então temos que perguntar ao presidente se terá rompimento com outras ditaduras que são os maiores importadores de nossos produtos como a China, o Oriente Médio ou mesmo com alguns países africanos”, disse o ex-ministro.
Segundo os números apresentados por Chioro, mais de 2,8 mil municípios serão prejudicados, sendo que 1.550 destes contavam apenas com médicos cubanos. Estes últimos dados também foram divulgados pela Confederação Nacional dos Municípios, nesta segunda, em reunião com o ministro da Saúde, Gilberto Occhi.
O Ministério da Saúde anunciou, nesta terça-feira (20), o lançamento do edital emergencial para chamar novos profissionais para substituir aqueles que deixarão o programa. A intenção é que os brasileiros tenham a prioridade no momento de escolha. E como forma de fazer com que as cidades mais pobres sejam beneficiadas, os municípios em que as vagas já estão completadas ficaram de fora da lista, assim colocando como opções apenas aqueles em que ainda necessitam realizar a substituição. A intenção é que em duas semanas ocorra o preenchimento de todas as vagas.
“Nos dois editais que já ocorreram também tinha a questão da prioridade para os brasileiros, porém as vagas não eram preenchidas e assim foram chamados os médicos de outros países. Espero que desta vez isso não aconteça e que todas as cidades possam ser beneficiadas”, disse Chioro.
Críticas aos cubanos
Arthur Chioro também rebateu críticas feitas por Jair Bolsonaro em relação ao tipo de contrato realizado com os governos brasileiro e cubano. Em relação ao salário, informou que os profissionais estrangeiros recebem R$ 3,2 mil mensais, além de ajuda com alimentação e moradia que são custeados pelos municípios.
“Eles são funcionários públicos em Cuba, ou seja, também recebem um salário por lá, pagam seus impostos lá e tem as leis trabalhistas daqueles país. Não nada relacionado com parte dos salários que ficam para o governo”, disse o ex-secretário de Saúde de São Bernardo.
Chioro também negou que houvesse escravidão destes médicos e dificuldades para trazer parentes. Outra crítica rebatida foi em relação ao Revalida, utilizado para revalidar a autorização para que estes profissionais possam trabalhar no país.
“Lógico que a medicina de Cuba não é melhor que a do Brasil, Estados Unidos, Reino Unido ou Canadá, mas os médicos cubanos fazem seis anos de faculdade, como os brasileiros, e também fazem um ano de residência em saúde da família e comunitária, ou seja, estão preparados para fazer este trabalho nas comunidades”, concluiu.