As propostas para a área da mobilidade dos candidatos ao governo do Estado, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) não privilegiam o ABC. Exemplo é que não citam o projeto da Linha 18, o monotrilho, para interligar a região ao Metrô na Capital. O RD questionou as assessorias dos dois candidatos sobre a iniciativa e a modernização das linhas férreas e estações de trens, durante uma semana, mas não responderam. Nos planos de governo de ambos há apenas menções sobre a melhoria do transporte sobre trilhos. Após o questionamento do RD, Doria divulgou vídeo nas redes sociais em que firma compromisso com o monotrilho. Para os especialistas, as propostas padecem da falta de aprofundamento.
João Doria cita terminar os projetos em andamento, implementar outros por meio de PPPs (Parcerias Público-Privadas) e modernizar as linhas já existentes o que poderia contemplar a Linha 10 Turquesa. A meta do tucano é fazer 350 km de vias férreas, além da construção de linhas do tipo VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). O professor do curso de arquitetura e urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Enio Moro Junior, não considera viável a proposta, por conta de recursos e do tempo. “É impossível, daria cerca de 80 km por ano, se fizesse 10 km já teria feito mais que o Alckmin (ex-governador Geraldo Alckmin – PSDB)”, comenta.
Faltam recursos
O coordenador do curso de gestão pública da Universidade Metodista, Vinicius Schurgelie, diz que o projeto dificilmente terá amparo pelo alto custo. “A proposta do Trem Intercidades é um projeto que já estava na carteira de projetos do governo estadual durante a gestão tucana, que depende de elevado investimento e estudos de impactos de instalação”, analisa.
Em vídeo divulgado terça-feira (24), Doria se compromete com o monotrilho. “Vamos desafogar a mobilidade do ABC, retomando a linha 18 Bronze do monotrilho, afirmo esse compromisso, trabalhando com a iniciativa privada numa PPP (Parceria Público Privada), vitoriosa para finalmente implantar essa nova linha do Metrô”, declarou. Schurgelie aponta a falta de recursos. Diz que o modelo é desafio na obtenção de linhas de financiamento por parte do parceiro privado. “Efeitos prolongados da crise econômica reduziram o limite de comprometimento da receita corrente líquida dos entes estatais e a capacidade de pagamento das parcelas de contratos vigentes, ainda que exista previsão de garantias contratuais”, diz o professor da Metodista.
Cartão único
Ao avaliar as propostas de França, Moro Júnior destaca a proposta de ampliar as linhas do Metrô e trens e modernizar o que já existe. Mas lamenta a falta de proposta com os municípios. “Nesse aspecto nenhum teve a preocupação. Deveria ter um único cartão de transporte, para ônibus, trem, táxi, veículo compartilhado ou bicicleta de aplicativo”, analisa. “Falta aprofundamento, apesar das intenções, não de trata da conversa do sistema estadual com os municípios. O Metrô, por exemplo, tem de sair da Capital; se deixou para o ABC um transporte de segunda classe, para uma região importante, onde estão setores produtivos tão significativos”, afirma.
Vinicius Schurgelie olha proposta de Márcio França também na parte do meio ambiente e dispara. “Destaca a necessidade de promover a redução das emissões de poluentes sem, contudo, indicar quais os mecanismos para dar conta da iniciativa. Aponta também o incentivo, ainda que bastante genérico, à mobilidade não motorizada (a pé e de bicicleta), e ao compartilhamento de veículos, que dependem de articulação e parceria com os municípios”, diz o professor da Metodista.
O que há nos planos de governo
João Doria: Programa propõe uma nova forma de fazer os investimentos através de Parceria Público Privadas. Como parte do serviço de transportes cabe aos municípios, se faz necessário a criação da Articulação Metropolitana. Em face da nova orientação de se transferir os serviços para a iniciativa privada, é essencial a constituição de uma Agencia de Transportes de Passageiros.
O Programa propõe ações para acelerar a conclusão das obras de todas as linhas do Metrô e da CPTM que estão contratadas e em andamento, bem como executar novos investimentos, ampliando-se a capacidade, modernizando linhas existentes. O objetivo final deste Programa na Região Metropolitana de São Paulo é uma rede de alta capacidade sobre trilhos, com cerca de 350 km. Ainda propõe a implantação e a ampliação do sistema de transportes de passageiros de média capacidade (tecnologia VLT) em outras regiões metropolitanas do Estado e o início da implantação do Trem Intercidades.
Propõe continuidade da expansão da infraestrutura dos sistemas de baixa e média capacidade, para implantação de BRTs, corredores de ônibus, faixas exclusivas, estações compactas e abrigos, de acordo com a necessidade de cada região.
Márcio França: Integrar o transporte metropolitano e as políticas setoriais de emprego, habitação, logística, planejamento e gestão do uso do solo; oferecer uma rede de transporte com adequada cobertura territorial, combinando modais municipais e metropolitanos; acelerar os investimentos nas linhas de metrô e trens, modernizando os existentes e desenvolver a implantação da rede de ligações regionais ferroviárias.
França prevê concluir a implantação do SIM (Sistema Integrado Metropolitano); concluir a implantação das conexões do aeroporto de Guarulhos e de Congonhas com o sistema metro-ferroviário da Grande São Paulo; intensificar os investimentos em corredores de ônibus metropolitanos; reduzir as emissões de CO2 (poluição) e a violência no trânsito com programas específicos e incentivo à mobilidade não motorizada (a pé e de bicicleta); operar, de forma coordenada, o metrô, os ônibus intermunicipais e os trens.
Também quer incentivar os serviços de compartilhamento de veículos; estimular o uso de novas tecnologias de inteligência artificial e big data no transporte e no atendimento aos cidadãos e garantir acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida no metrô e pontos de ônibus.