O preconceito e as barreiras que jovens e adultos afastados da sala de aula enfrentam na sociedade inspiraram o professor Mauro Rosa, da EMEB (Escola Municipal de Ensino Básico) Isidoro Battistini, em São Bernardo, para desenvolver um projeto com os alunos e ser um dos 10 vencedores do Prêmio Educador Nota 10. O concurso, realizado anualmente pela Fundação Victor Civita, reuniu mais de 4 mil trabalhos de professores de escolas públicas e privadas de todo o Brasil e apontou igualmente os 10 melhores cases.
Mauro Rosa ministra as disciplinas Artes e Projetos no ensino fundamental II – turma de EJA (Ensino de Jovens Adultos), da escola e participou da 21ª edição do prêmio, com o trabalho Vagas de Luz: Às Sombras do Preconceito, realizado com cerca de 20 alunos, durante seis meses. A apresentação final da proposta consistiu em atividade com teatro de sombras, em quatro atos, que abordavam homofobia e transfobia, racismo, preconceito contra ex-presidiário e machismo.
Com suporte da escola, Mauro utilizou a metodologia de Paulo Freire, da Situação Limite, que permite identificar a problemática vivida pelo aluno que o impede de avançar. Por meio de uma “escuta”, com rodas de conversas e dinâmicas, foi identificado o preconceito, que cada aluno enfrentava de uma forma. “Em uma turma de EJA, os alunos vêm com bagagem, experiência e muitas vezes sofrimento, mesmo os mais novos, que abandonaram os estudos por vários motivos. Na turma tínhamos mulheres vítimas de agressão, uma mulher trans e ex-presidiários que sentiam dificuldade de se reintegrar na sociedade. Cada um com uma história para contar”, relata.
Assim, os alunos se dividiram em quatro grupos entre os temas de acordo com a afinidade. Fizeram pesquisas, coletaram informações e buscaram método de traduzir as vivências de cada um, o conhecimento e resultados. “Pensávamos no melhor modo de apresentar isso para a comunidade, foi quando uma das alunas sugeriu o teatro de sombras. Foi uma ideia perfeita, porque faz analogia com o preconceito em si, algo velado, escondido, que não se revela”, conta o professor, ao completar que a escolha da modalidade permitiu a não exposição dos alunos.
Mauro Rosa destaca a importância desse projeto para a educação, principalmente para o EJA, que carece de políticas públicas que deem visibilidade para o segmento de ensino. “Sabemos a importância de valorizar a educação no Brasil, ainda mais no momento em que vivemos, mas quando falamos sobre o EJA, falamos sobre alunos que, infelizmente, já passaram por processo de exclusão do ensino. Projetos como esse nos lembram que precisamos dar atenção e investir nessas pessoas”, comenta o mestre, que ganhou vale-presente no valor de R$ 15 mil.
Catando e Contando Latinha – O Prêmio Educador Nota 10 visa reconhecer e contemplar projetos de professores, coordenadores e gestores de escolas públicas e privadas do ensino infantil até o ensino médio. Na nova edição, inscreveu 4,1 mil trabalhos de todo o País. Após seleção, apontou 50 finalistas, em 14 estados brasileiros. Entre as cinco dezenas de autores, a premiação apontou a professora Fernanda Camacho da Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) José Maria Sestilio Mattei, de Santo André, à frente da disciplina de matemática no ensino fundamental I. Fernanda foi premiada com o projeto Catando e Contando Latinhas, na qual planejou situação em que os alunos pudessem visualizar a matéria na prática por meio da coleta de material, contagem de dinheiro e venda de latinhas.