Os candidatos ao governo do Estado não se aprofundaram nas propostas de educação. A expectativa dos educadores era que os postulantes apresentassem planos consistentes para solucionar os diversos problemas no setor, que refletiram nas notas do Ideb (Índice de Desempenho do Ensino Básico), referentes a 2017 e divulgadas em setembro. Em queda nos últimos anos, São Paulo ficou com nota 3,8 para o ensino médio, muito abaixo da meta de 4,6. Os paulistas ficaram atrás na pontuação de Pernambuco, Espírito Santo e Goiás.
A professora pós-graduada em gestão educacional da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Sanny Silva da Rosa, afirma que as propostas são genéricas e muito parecidas. Fernando Luiz Cássio da Silva, professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) e pesquisador sobre educação, é da mesma opinião e vai mais longe. O mestre não acredita que a educação no Estado de São Paulo vá melhorar.
Na proposta, o governador e candidato à reeleição, Márcio França (PSB), quer aproveitar prédios já construídos, ociosos ou com outros usos, para ampliar a oferta de salas de aula. Nos programas, os candidatos citam modernização do ensino e valorização dos professores, mas não apontam a origem dos recursos pra efetivar o objetivo. “É um discurso genérico, muito parecido com o usado na disputa pela presidência e que segue o senso comum de que é preciso melhorar, ao mostrar desconhecimento das políticas públicas na área da educação”, completa o professor da UFABC.
Para Fernando Luiz Cássio da Silva os candidatos seguem a linha de experiências administrativas anteriores. “O João Doria (PSDB) segue um discurso banal de que a educação tem problema de gestão, enquanto Márcio França (PSB) comunga as políticas do PSDB, apesar de se colocar como centro-esquerda e dizer que agora o governo é de diálogo”, analisa.
A professora da USCS diz que as propostas se repetem. “Pode ser porque não tenham um diagnóstico claro sobre a área, mas isso não se aplica, por exemplo, ao PSDB, que está há 24 anos no poder. No meu entendimento, os planos de governo são mais panfletários do que material com conteúdo programático”, analisa Sanny. Para a educadora, a questão importante da evasão do ensino médio não é considerada pelos candidatos. “Não foi feita análise mais profunda sobre o motivo porque isso acontece, pode ser porque o jovem precisa ir para o mercado de trabalho, por causa da repetência ou ainda porque foi atraído pela rua”, comenta Sanny.
A educação em tempo integral é citada em quase todas as propostas e isso é outro ponto criticado pela educadora. “Manter o aluno da escola com qual finalidade? Nenhum deles detalha bem essa proposta. Mais tempo na escola não é a solução. Essas questões deixam claro que não foram consultados especialistas [na elaboração do plano para educação]”, comenta Sanny. Para o professor Fernando Silva, o futuro da educação nos próximos quatro anos, pode ficar como está ou até piorar. “Enquanto o governo visar eficiência econômica para produzir resultados com o mínimo de recursos, a escola não vai melhorar. Falta defender a escola e não geri-la como empresa, nos programas falta envolver movimentos sociais que dão a liga entre a estrutura do Estado e a expectativa da população”, avalia.
Resumo das propostas de Doria e França
João Doria (PSDB) – Em seu plano de governo, o candidato que representa o partido que está há mais de duas décadas administrando o estado, pouco especifica suas propostas para a educação. Apesar de um longo texto falando da importância da área, o tucano não apresenta uma propositura mais clara. O único ponto em que chega mais parto disso é no texto de introdução quando diz que pretende realizar trabalhos em conjunto entre as secretarias de Saúde, Segurança Pública e Educação, e quando pretende incentivar o ensino a distância e o ensino profissionalizante, além da educação em tempo integral, porém sem nenhum detalhamento.
Márcio França (PSB)- O governador que visa a reeleição possui 32 propostas, como a valorização profissional dos professores com cursos de qualificação permanente e a criação de plano de carreira para os profissionais da área, com possibilidade de assumir outras funções. França também quer usar espaços ociosos do Estado e, em conjunto com a União, municípios e associações comunitárias, repassá-los para que sejam utilizados como creches com ampliação do número de vagas. O candidato também prevê a integração da Secretaria de Educação com Cultura e Saúde.
Candidatos respondem com detalhamento
Por meio de nota, João Doria diz que o programa de governo está em constante aprimoramento durante a campanha eleitoral. Ele sustenta que percorreu mais de 100 municípios e teve a oportunidade de detalhar algumas das propostas para educação, como a de valorizar os professores, com melhores condições de trabalho e salários, ampliação e valorização do ensino técnico por meio das Etecs e Fatecs, sempre de maneira gratuita, e apoio às prefeituras na educação infantil para criar mais vagas em creches. O candidato anuncia também o programa ‘Dia D na Educação’, quando as crianças farão exames médicos para garantir que estão com a saúde em dia para que possam estudar. Sobre o Ideb, o tucano diz que o compromisso será fazer com que São Paulo volte a liderar. “Faremos isso com a colocação em prática dos projetos citados e avaliação de outras formas de aprimorar a qualidade de ensino. Queremos professores motivados e escolas que ofereçam mais tecnologia para os estudantes, com modernos equipamentos, como fizemos na Capital ao implantar o CEU 21”, completa.
Márcio França não considera ruim o desempenho do Estado no Ideb. Diz que São Paulo avançou no ensino fundamental, com crescimento nas provas de matemática e português, e no ensino médio, a variação negativa foi de apenas 0,1%. “Mas é preciso melhorar, sempre”, afirma. O candidato considera fundamental valorizar a carreira do professor, oferecer mecanismos de qualificação constantes aos profissionais, ter um modelo curricular conectado com a sociedade contemporânea e investir em tecnologia, como lousas digitais. Também acredita que isso é importante para promover o avanço da qualidade do ensino e reduzir a evasão escolar. “O ensino médio deve estar articulado às expectativas e projetos de vida dos jovens”, diz. O candidato afirma que a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) ganhará 150 mil novas vagas, num total de 200 mil alunos matriculados em cursos a distância a partir de 2019. Também diz que vai construir mil creches e valorizar a carreira dos professores “com bons salários”, e fará “revolução no ensino médio”, ao oferecer cursos técnicos no Centro Paula Souza e garantir de vaga em cursos da USP, Unicamp e Unesp, à distância, de graça e sem vestibular, através da Univesp.