Política externa também precisa estar na pauta dos candidatos, diz professora

A campanha eleitoral está nas ruas, porém, tanto os discursos dos candidatos à presidência quanto os programas de governo são vagos no que se refere a questões fundamentais para a relação do Brasil com o Exterior. É o que constata a professora de Relações Internacionais Neusa Barazal, do Centro Universitário da Fundação Santo André.

Para a especialista, ainda que abordem a política externa, os presidenciáveis não aprofundam discussões latentes para o futuro da ciência e da educação, como os acordos de cooperação. O mesmo vale para transações econômicas e a atualíssima situação dos refugiados. “Infelizmente, os candidatos não têm a preocupação de conversar com seus eleitores sobre esse tema que é tão importante. E isso num momento em que os países precisam estar inseridos na globalização. Não dá para olhar apenas para o próprio umbigo”, critica a professora.

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Segundo Neusa,  os problemas internos, que não são poucos, ocupam quase que a totalidade dos discursos, mas os políticos precisam deixar claro o que o Brasil quer de seus parceiros no mundo. “Ninguém vive isolado e isso chama atenção. Boa parte de nossas dificuldades de relacionamento com o Exterior hoje tem a ver com opções erradas feitas no passado”, afirma.

Um dos erros históricos apontados está em direcionar a atenção apenas para os acordos comerciais, que envolvem importação e exportação. “A  questão econômica é a principal, porém, existem convênios educacionais, com grandes universidades, relações humanitárias, enfim, várias outras oportunidades”, comenta.

A professora explica que é importante o Brasil mostrar suas potencialidades para o mundo, do contrário, o País corre o risco de pagar o preço da falta de posicionamento mundial. “Se você não se apresenta, você vai ficando esquecido. Não se expor num mundo competitivo como o de hoje é um risco muito grande” reforça.

Embora Neusa Barazal (foto) foque a crítica nas eleições deste ano, não é de hoje que as questões internacionais são deixadas de lado em campanhas políticas. “É meio uso e costume, infelizmente. Realmente, temos uma carência para ontem sobre temas internos, como saúde, educação e segurança, mas isso não pode fazer com que fechemos os olhos para o mundo. O eleitor precisa se conscientizar que a não tomada de decisões, a omissão, vai deixando o Brasil numa posição menos privilegiada”, ressalta.

No que se refere à situação dos refugiados, em especial dos que deixam a Venezuela, caso cada vez mais preocupante na América do Sul, Neusa acredita que o Brasil tem agido a contento, ao se posicionar dentro do que especificam os tratados internacionais. “Ainda temos recebido menos venezuelanos do que países de fala hispânica. O que ocorre é que fomos pegos de surpresa num Estado (Roraima), que não tem condições para absorver o fluxo imigratório”, comenta.

A professora da Fundação Santo André afirma que o problema da Venezuela não deve ser resolvido em curto prazo e a tendência é que aumente o movimento de pessoas em busca de oportunidade em outros lugares. “É muito oportuno lembrarmos nesse momento que o nosso País é formado por imigrantes. Um dia o Brasil já cumpriu seu papel. É um tema delicado, a população começa a reagir de forma violenta temendo a perda de espaço no mercado de trabalho num país em crise e com altas taxas de desemprego, mas não dá para jogar a questão para debaixo do tapete”, diz.

Carreira – Em entrevista ao canal RDtv, Neusa Barazal aproveitou para abordar o mercado de trabalho para o profissional de Relações Internacionais – chamado de internacionalista – e a grade curricular do curso de graduação, oferecido no ABC apenas pela Fundação Santo André.  “É uma profissão bem recente e que ganha espaço com a globalização. Num mundo globalizado o profissional que tem visão abrangente, entende um pouco de Economia, Direito, Política, História e ainda fala outras línguas, é cada vez mais requisitado”, salienta.

Vale destacar que, embora possa trabalhar em embaixadas, o internacionalista não é diplomata. O campo de atuação se estende a organismos da ONU (Organização das Nações Unidas), governos municipais, estaduais e federais, setor privado e organizações não governamentais (ONGs). “É uma profissão que atende ao contexto em que vivemos hoje e pede a intermediação com essa rede global”, completa a professora.

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