A escola básica vive o desafio cotidiano de responder às exigências da contemporaneidade, marcada por mudanças constantes, pela volatilidade da conjuntura, o uso de novas tecnologias e conexão a um mundo online. Não são poucos nem pequenos os desafios. Nesse contexto a discussão sobre o livro didático em sala de aula ganha relevância.
“Tudo ao mesmo tempo agora” dizia o título de um álbum dos Titãs dos anos 1990, que sintetizava a velocidade de reprodução das relações sociais. A instantaneidade e a hipervalorização do momento carregam a simbologia de uma sociedade em transformação vertiginosa. Para o bem e para o mal somos tomados pela sobreposição de imagens, cores e fatos em ritmo acelerado e numa intensidade assustadora.
Os estudantes sem perfil nas redes sociais são tidos como alienígenas. Selfies em profusão e a vida privada num clique se torna pública. Na escola o estudante se depara com uma lógica que viaja em outra temporalidade. Primeiro porque o processo de aprendizado não anda na velocidade do mundo das aparências, e, a leitura, a absorção e a compreensão dos fenômenos maturam bem mais devagar. O choque entre as duas temporalidades se evidencia na dificuldade em absorver novas tecnologias e, ao mesmo tempo, processar o conhecimento. Não há receita pronta de como fazê-lo.
O livro didático há muito tempo utilizado como essencial nos conteúdos em sala de aula, aos poucos, perde a capacidade de cumprir seu papel. Primeiro porque se distancia abissalmente do mundo online. O estudante quer saber da guerra na Síria, mas o livro chegou até Ruanda. Segundo, pela linguagem, distante da realidade dos alunos e, portanto, pouco atrativa ao seu interesse.
A falta de interdisciplinaridade e de temas transversais na lógica rígida das disciplinas, também se mostra pouco produtiva em um mundo interligado e conectado. Outra questão é a posição passional do estudante ante do conhecimento. O livro estrutura conteúdos que se mostram definitivos, não comportam questionamento e nem tampouco pesquisa. A produção do saber, a partir do acúmulo que os estudantes carregam, pouco espaço tem no livro didático.
A rigor o livro didático não é o começo nem o fim do problema. É parte de uma estrutura educacional presa aos moldes do passado que não se modificou substancialmente à revelia do que acontece no mundo fora dos muros da escola. A superação dessa contradição se dará pelos conflitos cotidianos gerados pela divergência de interesses e uma nova síntese será gerada. Que seja a de interesse da maioria do povo brasileiro.
Ricardo Alvarez é professor do ensino médio há 36 anos e leciona na Fundação Santo André