A SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado de São Paulo apontou que, somente no ano passado, foram pelo menos 280 tentativas de feminicídio (crime praticado contra o gênero feminino), o que coloca o Brasil como o quinto país que mais mata mulher em todo o mundo. Em 2016, 132 processos foram abertos. Os números mostram que mesmo com a Lei Maria da Penha, que completou 12 anos na última terça-feira (7), ainda é latente a violência contra a mulher. No ABC, a situação não se mostra diferente.
Em Santo André, de janeiro a julho deste ano, cerca de 900 denúncias chegaram na DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). No ano passado, foram 995 no mesmo período. Para a delegada Adrianne Mayer Bontempi, a sociedade machista ainda impera para proliferação dos atos de violência doméstica. “Desde criança vivemos em um mundo com separação do que ‘é de menino, o que é de menina’. A mulher ainda é subjugada e dependente. Esses comportamentos fazem com que o padrão seja replicado e haja agressões frequentes”, afirma.
Cenário semelhante ocorre em Mauá. Neste ano, no mesmo período, foram registrados 547 casos de mulheres vítimas de agressão.
No entanto, delegadas da região entrevistadas pelo RD disseram que o auxílio das delegacias especializadas encorajaram muitas mulheres a denunciar atos de violência, desde psicológicas e verbais até agressões físicas. Desde que a lei foi instituída, segundo as profissionais, houve aumento de 40% nas queixas.
Recentemente, o caso da policial militar Juliane dos Santos Duarte, de São Bernardo, morta por suspeito de 45 anos, contribuiu para que outras mulheres passassem a denunciar casos de violência.
É o caso de Adrielle Rocha (nome fictício), que esteve na última quarta-feira (8) na delegacia da mulher de Santo André, para prestar queixa de violência verbal. “Tomei coragem pelos casos que vi na televisão e, então, resolvi registrar a reclamação. Não podemos deixar a situação assim, ainda mais tendo filhos em casa”, diz.
No ABC, são quatro as delegacias especializadas no atendimento a mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência física, moral e sexual – em Santo André, São Bernardo (responsável por São Caetano), Mauá (que também atende Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) e Diadema. O objetivo é prestar atendimento diferenciado a vítimas por meio de integração com a polícia, serviço médico, psicológico e jurídico.
Na Delegacia de Defesa da Mulher de Santo André, quem procura auxílio pode participar também do programa DDM Amiga, com encontros todas as segundas-feiras, em parceira com as promotoras legais populares da cidade, para compreender a importância da denúncia e o contexto da violência. O objetivo é se fortalecer para sair do relacionamento abusivo.
Homem consciente também
Os agressores não foram esquecidos. Na delegacia especializada de Diadema, o projeto ‘Homem sim, consciente também’, implementado em 2016, tem surtido efeito. Segundo a delegada titular e responsável pelo projeto, Renata Lima de Andrade Cruppi, o programa consiste em reunir homens com traços de agressividade e vícios para conversas sobre seus problemas e reconstrução do laço familiar.
“São seis encontros com equipe multidisciplinar que ajudam o homem a se autocompreender, entender a importância de suas companheiras e de sua família e a enfrentar as dificuldades com mudança significativa”, explica Renata. O programa já atendeu 200 homens na cidade e outros 120 em Santo André. Segundo a delegada, os resultados apresentados foram satisfatórios.
Prefeituras oferecem serviços de acolhimento às vítimas
As prefeituras do ABC possuem serviços gratuitos de acolhimento, acompanhamento, atendimento psicossocial e orientações jurídicas às mulheres e crianças vítimas de violência.
Em São Bernardo, o Centro de Referência e Apoio da Mulher Márcia Dangremon presta serviço de avaliação, acolhimento e acompanhamento, assim como a Casa Abrigo Regional, administrada pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC.
No caso de Santo André, o programa de acolhimento e acompanhamento é feito pelo Vem Maria, que completou 20 anos de fundação. Atendimentos são prestados às mulheres vítimas de violência a partir de 18 anos, com atendimento médico e acolhimento.
Já em Diadema, o serviço de referência é a Casa Beth Lobo, com trabalhos semanais a mulheres que sofreram violência doméstica. Em Mauá, o serviço gratuito é oferecido pelo Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social).
Nas quatro cidades, juntas, ao menos, 14 mil mulheres passaram por atendimento e outras 380 estão sendo assistidas. As Prefeituras de São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não responderam.