O Mais Médicos, programa federal criado para ampliar o acesso à rede de atenção básica, principalmente em regiões mais distantes e periféricas do País, completou cinco anos. No ABC, atualmente, 156 profissionais, entre brasileiros e estrangeiros, atuam nas unidades de saúde espalhadas por Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – São Caetano não aderiu.
No início do programa nacional, lançado em julho de 2013, ainda no governo Dilma Rousseff (PT), os seis municípios da região chegaram a ter 189 médicos. Mauá foi a cidade que recebeu mais profissionais, na época, 62, seguida de Santo André (50) e São Bernardo (35), segundo as prefeituras.
Além disso, quando introduzido no País, o programa recebeu série de críticas da classe médica brasileira e gerou certa desconfiança da população com a aterrissagem, aos montes, de profissionais originários de Cuba. No fim de 2014, por exemplo, havia 11,4 mil cubanos entre os 14,4 mil médicos.
Nesse cenário, os profissionais da ilha caribenha representavam 79% do total de inscritos, de acordo com o Ministério da Saúde. Desde o segundo semestre de 2016, cerca de mil cubanos que encerraram os três anos de trabalho voltaram à ilha de Fidel Castro e, gradativamente, foram substituídos por brasileiros.
Situação que não está tão diferente a da região. Dos 156 profissionais atualmente em atividades no ABC, 68 deles são brasileiros para 88 estrangeiros. Das seis cidades, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires possuem hoje mais médicos nascidos no Brasil inscritos no programa do que de outras nacionalidades, respectivamente, 22, 9 e 12.
São Bernardo, inclusive, teve o desligamento de 26 médicos cubanos, após o ciclo de três anos de contrato, desde a implementação do programa.
Natural de São José do Goiabal, cidade de Minas Gerais, a cirurgiã Lumena Moraes Simões é um exemplo de brasileira recém-chegada ao programa. Formada em Medicina pela UPE (Universidade Privada Del Este), em 2016, a médica atua na USF (Unidade de Saúde da Família) do Jardim Carla, em Santo André, desde outubro do ano passado. O marido, também médico e inscrito no mesmo programa, trabalha em São Paulo.
Com o Revalida em mãos, exame de qualificação para diplomados no Exterior, Lumena defende o programa nacional. “Além de oferecer salário interessante e vários benefícios, como auxílios de transporte, moradia e alimentação, é o que nos permite o contato direto com a população, desde um simples olhar até o tocar no paciente, para busca da melhor resolutividade”, afirma a médica, com especialização em saúde da família.
Apesar do novo interesse dos brasileiros em aderir ao programa federal, o número de estrangeiros ainda é maior. Na região, 88. Mauá lidera com 35 médicos de fora. A Prefeitura não informou a origem dos profissionais. Em Rio Grande da Serra, dos oito profissionais que atuam em oito unidades de saúde, seis deles são cubanos.
Fora os cubanos espalhados pelas cidades do ABC, Diadema possui no seu quadro ainda um médico sírio; São Bernardo, um mexicano, e Santo André, um boliviano.
Confira os números dos profissionais do ABC inscritos no Programa Mais Médicos:
No País
O número de médicos em atividade no programa é dinâmico e varia constantemente, conforme a saída e reposição com o encerramento de contratos. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 16.721 profissionais estão inscritos, dos quais, 8.612 cooperados cubanos, 5.056 brasileiros formados no Brasil e 3.053 intercambistas (médicos brasileiros formados no exterior ou de outras nacionalidades). Ainda restam 1.519 vagas abertas para reposição. Cerca de 63 milhões de pessoas são beneficiadas.
Os profissionais do Mais Médicos recebem bolsa-formação (atualmente no valor de R$ 11,8 mil) – com exceção dos contratos celebrados pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde). Além disso, todos eles têm a moradia e a alimentação custeadas pelas prefeituras.
Cubano vai de ônibus à unidade
De ônibus de linha da região central de Santo André para o trabalho diário na USF (Unidade de Saúde da Família) do Jardim Carla, região da periferia encravada entre morros invadidos e hoje ocupados por habitações de alvenaria. Assim tem sido a rotina há quatro anos do médico Silvio Enrique Lorenzo Arana, 55 anos, que deixou para trás três filhos, uma netinha e Cuba, país que se formou na profissão há 27 anos.
Antes do Brasil, trabalhou também na Venezuela. Mas é aqui que seu coração se transformou em verde e amarelo. “Gosto do clima, mais frio. Das comidas e acho a cidade de São Paulo bonita”, conta Arana, durante folga rápida entre uma consulta para outra na unidade pertencente à rede básica de saúde de Santo André. E acrescenta, com humildade: “O que aprecio mesmo é o brasileiro, a pessoa mais nobre do mundo que conheci”, diz o médico, com exagero certo na qualificação.
Sobre o trabalho na unidade do Jardim Carla, o médico não troca por nada. “Me identifiquei com as pessoas desse lugar”, confidencia Arana, que todas as sextas-feiras à tarde, ao lado da equipe da ESF (Estratégia Saúde da Família), sobe e desce escadas, inclusive o popular Morro da Kibom, no Condomínio Jardim Maracanã, nas visitas domiciliares aos pacientes. Na área dele são 1.223 famílias, que correspondem a 4.345 pessoas – muitas em situação de vulnerabilidade social.
O profissional avalia que o programa, atualmente, chegou no seu padrão ideal. “No início tudo era novo e ninguém conhecia, inclusive a população”, afirma o cubano, que fala perfeitamente o português, mas carrega um dos nomes grafados erroneamente no jaleco de trabalho, cedido pela Prefeitura de Santo André: Henrique, ao contrário de Enrique.